Estive neste fim de semana no rio de Janeiro. Um calor!
Lá encontrei um torcedor do fluminense conversando com um vascaino, ambos vestidos com as respectivas camisas de seus clubes. E numa nice.
Aqui em Sampa daria uma briga de organizadas.
De volta, antes de chegar à Rodoviária Novo Rio, passei por uma praça cheia de gente empinando pipas, aos montes.
Pensei comigo - Como é barato ser feliz.
Concluo - Muitos buscam sobreviver, lutando daqui e dali, cheios de aflição, e a alegria à disposição de cada um, desde que se disponha a encontrá-la, nas atividades mais triviais da vida, como esta de empinar pipas.
Fiz uma viagem das mais cansativas de volta a São Paulo.
Sentei ao lado de um Monumento, isto é, de uma moça que se achava a sétima maravilha do mundo, e por isso silenciara-se.
Ou então pensava que eu fosse um estuprador, afinal estou careca e barrigudo.
Fez-me lembrar da Bela e a Fera, ou o Corcunda de Notre Dame, ou o Fantasma da Ópera.
Achei-me o último dos mortais, ali em silêncio, por toda a viagem.
Para não deixá-la inflar-se muito, também a evitei. Ficamos assim, como se não existíssemos.
Busquei fazer uma oração, mas o cansaço também me impediu. Pedi perdão a Deus por tanta fraqueza.
A condição humana é horrível, e dói ver como somos secos de coração e humanidade.
De volta a Sampa, encontrei no final do domingo, grupos os mais variados, nos poucos trens que ainda circulavam, do Metrô.
Não existe nada mais melancólico que o fim do domingo, para quem não tem fé. Como estava meio sem fé, então...foi melancólico, mas nem tanto.
Segunda-feira não tive disposição nem de escrever.
Pensei no avestruz que põe a cabeça embaixo da terra, e por encanto se considera escondido.
Esta terça, entretanto, já refeito da viagem, de volta ao regaço do lar, saí pela manhã, correndo pelo centro de Sampa.
Com sempre, a Rio Branco muito poluída, e a Praça Princesa Isabel com mães e seus bebês misturados a um sem número de mendigos e abandonados, largados à meio fio da calçada e nos jardins. Um fedor de fezes humana horrível.
O grau de mendicância naquela área é das mais degradantes, pois são drogados, que se vestem de cobertores apenas, e esqueléticos, tropeçam pelas calçadas, com os corpos machucados e fedidos.
Faço uma corrida leve, quase uma marcha.
Já no centrão, próximo a Sé, vejo mais um dos muitos pequenos piquetes de greve do Sindicato dos Bancários.
Um orador no microfone tenta levantar o ânimo dos funcionários do Banco do Brasil, enquanto recrimina a outros, pois aparentemente ali a greve é parcial.
Paro, e acompanho o discurso muito bem elaborado, por sinal.
Discurso feito com um sistema de som alimentado por um motor, coisa já bem estruturada, até um pouco burocrática e exterior ao movimento, pois o orador não tinha platéia visível.
Meu sentimento é de solidariedade, mas carrego no bolso duas contas para pagar, uma de luz e outra de gás, e preciso encontrar alguma agência aberta para não ficar com multas.
São as contradições da vida: apoiar, de um lado, os bancários, pois já fui um deles, e demitido por razões políticas, no passado ( um dia conto a vocês), e de outro, ter contas que precisam ser pagas em alguma agência aberta, tornando-me um virtual fura-greve.
Procurei pagar sem levantar marolas, usando um termo atual, lulístico.
Achei uma agência do Bradesco, na Pça. Marechal Deodoro, e resolvi lá as pendências.
No centro, o povo de rua, que é acordado todas as manhãs pela polícia municipal, fica sentado na Sé, no Pátio do Colégio, tentando esquentar-se deste dia úmido e com nuvens.
O que será de nosso país aí pela frente? Tudo muito contrastante.
Um país com desenvolvimento e miséria, exploração e greves.
Não recebo cartas há uns quinze dias. Greve do Correio.
Gosto do que Dilma está fazendo.
Agora parece que ela está com mais personalidade, e isto é bom.
A sombra do Lula deve ter-lhe sido muito pesada.
Parece que passou.
Melhor.
Imagino que se fosse o Serra Presidente, isto estaria uma convulsão social, com as tropas da Otan bisbilhotando tudo, e repressão em cima do povo.
Graças a Deus que não, e temos abertura para o contraditório.
Democracia.
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