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Religião: uma questão de foro íntimo, e não uma imposição do Estado

O terceiro milênio muito cedo dá demonstrações de regressão ao pré-cristianismo.

A  BBC, há alguns meses, decidiu substituir o "dC"(depois de Cristo) em suas edições para outra sigla, não sem o protesto veemente do Vaticano.

É uma pequena demonstração do quanto estão sendo substituídos os símbolos religiosos no ocidente.

Crucifixos nas paredes dos tribunais e das escolas estão sendo retirados aqui e acolá, ou por vontade própria, ou até por ações judiciais.

A Presidente Dilma teve uma pequena refrega no início de seu mandato, quando se soube da retirada do crucifixo e de uma Bíblia de sua sala de trabalho.

Recentemente, entrevistada pelas pegadinhas da Globo, apareceu a Bíblia sobre sua mesa e uma imagem de Nossa Senhora de Aparecida.

Nada mal ter a quem recorrer, depois de tanta desgraça de início de mandato, principalmente quando os problemas fogem do controle.

O Ocidente está secularizado, isto é, substituindo sua crença pela satisfação dos bens materiais.

Enquanto houver abundância de bens, este neopaganismo terá espaço, mas como já se aprofunda a crise na Europa, é de se esperar o ressurgimento do fundamentalismo.

Quem não tem formação, aceita a primeira pregação.

Esta desestruturação espiritual é acompanhada por uma desestruturação moral, ética, cultural, que vai tornando tudo permissivo e normal.

Isto se deve às condições materiais em que se encontra a sociedade ocidental do século XXI, mas também pode ser encontrado na formação doutrinária do cristianismo.

O cristianismo é acima de tudo uma religião de foro íntimo, não uma religião moral, como o islamismo, nem como uma religião dietética, como o judaísmo.

As religiões morais e dietéticas são impulsionadas para ocupar o aparelho do estado, e fazer valer as suas regras.

O cristianismo foge disto, ainda que algumas igrejas evangélicas se esforcem por impor regras morais aos seus fiéis como se isto fosse cristão.

Jesus fazia suas refeições com os pecadores de maneira geral, e escandalizava os fariseus, os doutores da lei, os saduceus, os escribas.

Jesus transformou os mandamentos que condenavam os erros, para antes disto, para o desejo de errar, na mente, portanto.

É acima de tudo uma religião de foro íntimo.

Pecar por desejar a mulher do próximo, começa no desejo interior, no coração e na mente do homem.

E aí já está o pecado.

E, mais importante, no cristianismo maior do que o pecado é o perdão, de forma que há abertura para a reconciliação de todos, apesar dos erros.

No Oriente estes problemas não existem porque são duramente reprimidos pelas normas religiosas que estão representadas no aparelho do Estado.

É o caso da Sharia, normas islâmicas, que é posta como lei máxima do país, as quais todos devem se submeter.

Aí acaba a liberdade do homem e da mulher principalmente, e começa a nova escravidão da Humanidade.

O que é preferível?

A liberdade de culto, e a separação entre Estado e religião, isto é o desejável.

Não é o caminho que as revoluções da primavera árabe indicam.

Lá cresce o fundamentalismo e o estado religioso se sobressai.

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