Pular para o conteúdo principal

A Janela da vida



Olho para a janela. O sol da tarde deixa uma curiosidade, sobre o que as pessoas estão fazendo do lado de fora.

Os parques devem estar cheios de famílias, com seus filhos. Casais de namorados encontram lugares tranqüilos, longe da movimentação.

Devem estar aproveitando as sombras das árvores, neste calor, deitando-se à beira de alguma lagoa, observando peixes e os gansos que deslizam livremente sobre a água tranqüila, retirando algum pedaço de pão de seu próprio lanche, para alimentá-los, só para ver como disputam o alimento.

Outros caminham nas ruas, indo a um Shopping Center assistir a um filme, e tomar um sorvete, comer um lanche.

Ou então, estarão em casa, com toda a família reunida para o almoço, conversando sobre os acontecimentos da semana.

Permaneço longe de tudo isso.

Estas situações, consideradas tão normais, para todos, neste momento possuem para mim um valor inestimável.

Como dava tão pouca importância para isto, e agora, que vontade de estar em algum destes lugares, destas situações.

Vida contraditória: não apreciar o que vivia, e ao perdê-la sentir saudades.

Um dia depois do outro.

As feridas não cicatrizam, demoram.

Devo ter paciência, para manter-me calmo, longe da agitação em que vivia.

A enfermeira entra no quarto.

Examina o soro, mede a pressão, observa a ferida, prepara uma nova bandagem.

Sinto-me dependente em tudo.

Nada mais posso fazer por mim mesmo.

Até nas pequenas coisas, como ir ao banheiro, dependo de alguém.

Alimentar-me? Mas os alimentos parecem sem sabor, com pouco sal.

Um dia sairei. Serei o mesmo? Com os mesmos sonhos? Verei o mundo da mesma forma de antes, com tanta falta de consciência da importância das pequenas coisas que desprezava?

Não! Nunca mais. Um dia sairei; não me cabe dizer o momento. quando isto ocorrer quero resgatar o que não fiz, se ainda houver tempo. 

As feridas que cicatrizem, e a fisioterapia que me recomponha.

Sobre esta cama, sem nada fazer, aprendi a humildade, a paciência, a esperança.

Uma mudança vem em mim, contra a vontade, sem desejar.

Aprendi uma humanidade que estava esquecida. Vou recolocar a vida em uma nova dimensão.

Uma aprendizagem sem esforço, imobilizado que estou.

O amanhã será diferente. Uma grande mudança ocorreu em mim.

Descobri, que sem me dar conta de mim, algo tocou, transformando-me.

Que mistério a vida!

Olho para fora pela janela, e percebo que é dentro, e não fora, a visão que falta.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Como devia estar a cabeça de Mário de Andrade ao escrever este poema?

Eu que moro na Lopes Chaves , esquina com Dr.Sérgio Meira, bebendo atrasado do ambiente onde Mário de andrade viveu, e cuja casa é hoje um centro cultural fechado e protegido a sete chaves (que ironia) por "representantes" da cultura, administrada pela prefeitura... Uma ocasião ali estive, e uma "proprietária da cultura" reclamou que no passado a Diretoria da UBE - União Brasileira de Escritores, da qual fiz parte,  ali se reunia, atrapalhando as atividades daquele centro(sic). Não importa, existem muitos parasitas agarrados nas secretarias e subsecretarias da vida, e quero distância desta inoperância. Prefiro ser excluído; é mais digno. Mas vamos ao importante. O que será que se passava na cabeça do grande poeta Mário de Andrade ao escrever "Quando eu morrer quero ficar". Seria um balanço de vida? Balanço literário? Seria a constatação da subdivisão da personalidade na pós modernidade, ele visionário modernista? Seria perceber São Paulo em tod...

O POVO DE RUA DE UBATUBA

 Nos feriados, a cidade de Ubatuba dobra o seu número de habitantes. Quando isso acontece, logo retiram os moradores em situação de rua, de seus locais, porque consideram que estes prejudicam a "imagem" da cidade. A questão é que os moradores de rua somente são lembrados quando são considerados prejudiciais à cidade. Não existe em Ubatuba uma política de valorização do povo de rua, capaz de diagnosticar o que impede eles de encontrar saídas dignas para suas vidas. Não existe sequer um local de acolhimento que lhes garanta um banho, uma refeição e uma cama. Saio toda semana para levar comida e conversar com eles.  Alguns querem voltar a trabalhar, mas encontram dificuldade em conseguir, tão logo sabem que eles vivem na rua e não possuem moradia fixa. Outros tem claro problema físico que lhes impede mobilidade. Outros ainda, convivem com drogas legais e ilegais.  O rol de causas que levaram a pessoa viver na rua é imenso, e para cada caso deve haver um encaminhamento de sol...

PEQUENO RELATO DE MINHA CONVERSÃO AO CRISTIANISMO.

 Antes de mais nada, como tenho muitos amigos agnósticos e ateus de várias matizes, quero pedir-lhes licença para adentrar em seara mística, onde a razão e a fé ora colidem-se, ora harmonizam-se. Igualmente tenho muitos amigos budistas e islamitas, com quem mantenho fraterna relação de amizade, bem como os irmãos espíritas, espiritualistas, de umbanda, candomblé... Pensamos diferente, mas estamos juntos. Podemos nos compreender e nos desentender com base  tolerância.  O que passo a relatar, diz respeito a COMO DEIXEI DE SER UM ATEU CONVICTO E PASSEI A CRER EM JESUS CRISTO SEGUINDO A FÉ CATÓLICA. Bem, minha mãe Sebastiana Souza Naves era professora primária, católica praticante,  e meu pai, Sólon Fernandes, Juiz de Direito, espírita. Um sempre respeitou a crença do outro. Não tenho lembrança de dissensões entre ambos,  em nada; muito menos em questões de religião. Muito ao contrário, ambos festejavam o aniversário de casamento, quando podiam, indo até aparecida d...