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Queima do Alcorão nos EUA: cristãos paquistaneses em perigo



Saiu no Zenit
Por Paul De Maeyer

"Quem semeia ventos colhe tempestades": assim diz um provérbio baseado no livro de Oseias (8,7). E os ventos foram semeados pelo polêmico reverendo evangélico americano Terry Jones, quando, a 20 de março, cumpriu a sua ameaça e organizou em Gainesville (Flórida) um "julgamento contra o Alcorão".

No final do julgamento, o livro sagrado do Islã recebeu o veredicto de "culpado" pelos crimes contra a humanidade e por ser um promotor de atos de terrorismo "contra pessoas cujo único crime foi não compartilhar a fé islâmica". Como "castigo", um exemplar do Alcorão foi queimado publicamente pelo pastor Wayne Sapp. O evento teve a participação de cerca de 20 pessoas (‘Agence France-Presse', 20 de março).

Em setembro passado, Jones ameaçou queimar uma cópia do Alcorão para marcar o aniversário dos ataques às Torres Gêmeas em Nova Iorque, em 11 de setembro de 2001, mas desistiu do seu propósito depois de uma enxurrada de condenações internacionais e nacionais, especialmente do presidente Barack Obama e de muitos expoentes cristãos.

A queima do Alcorão suscitou fortes reações. Nos últimos dias, foram realizados protestos em várias cidades, por exemplo, em Lahore, capital da província de Punjab, onde manifestantes queimaram um boneco que representava o reverendo Jones, atacaram a igreja e a casa do pastor da ‘Full Gospel Assembly', assaltaram uma igreja pentecostal e invadiram a igreja católica de São Tomás, no distrito militar de Wah. "É uma reação à profanação do Alcorão na Flórida, apesar de a comunidade católica condenar o ato", disse o pároco, Pe. Yousaf.

O gesto de Jones foi denunciado pelas mais altas autoridades do país. Também a Igreja Católica do Paquistão condenou o ocorrido. "Em nome dos bispos católicos e dos cristãos no Paquistão, condeno este ato de loucura pura, que não representa os valores cristãos e os ensinamentos da Igreja", diz um comunicado assinado por Dom Lawrence Saldanha, arcebispo de Lahore e presidente da Conferência Episcopal do Paquistão (‘AsiaNews', 23 de março). "Desagrada-nos ver que as pessoas que se definem como pastores sejam tão ignorantes do que é a sua religião, assim como a decência normal", continua o texto, com tom duro.

Palavras tão claras como estas foram usadas ​​pelos cristãos na vizinha Índia. "Tais atos reprováveis ​​não podem ser justificados sob nenhuma circunstância", disse o ativista John Dayal, presidente do ‘All-India Catholic Union', segundo o ‘Times of India' (24 de março). Por sua parte, o presidente da ‘Indian Christian Voice' e vice-presidente da ‘Maharashtra State Minorities Commission', Abraham Mathai, definiu a queima como "um ato insano e desprovido de razão", e advertiu ainda que o gesto terá "consequências desastrosas e de longo alcance" para a paz universal e o diálogo inter-religioso.

Do Paquistão chegou, no entanto, um "sinal de esperança para as minorias religiosas. Como relatou a agência ‘Fides', Paul Bhatti, ou seja, o irmão mais velho do ministro católico assassinado há três semanas e meia, foi nomeado, em 24 de março, "conselheiro especial" do primeiro-ministro Gilani para as Minorias Religiosas. Após a morte de seu irmão, Paul Bhatti também foi eleito presidente da ‘All Pakistan Minorities Alliance' (APMA), o organismo de defesa das minorias do fundado por Shahbaz Bhatti, em 2002.

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