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A subjetividade da discriminação

O que está por trás de alguém que discrimina outra pessoa?

Sim, porque discriminar não envolve somente as minorias, a saber, as mulheres(que é uma minoria majoritária), os negros (outra minoria majoritária), gays, lésbicas, índios.etc

A discriminação é muito mais ampla, e permeia a tudo e a todos.

A nós em particular ela está muito presente.

quando temos uma opinião sobre alguém ou algo é um fato, quando agimos de acordo com esta opinião é bem diferente.

Tenho comigo que a sociedade está em processo de "desdiscriminação", ou seja, caminhamos num aprendizado meio teórico, meio prático de superação dos preconceitos que subsistem no âmago do nosso ser.

O homem que tem sede de riqueza, passa por cima de outro homem.

O homem que deseja uma mulher, mais do que a ama, passa por cima desta mulher. E assim vai.

Um dia destes, um grupo de jovens estudantes me parou na rua e perguntou se eu não tinha preconceitos.

A primeira reação foi a de dizer que não, não tenho.

Mas objetei com minha própria subjetividade.

Quantas vezes não sou um racista enrustido, disfarçado?

 Respondi que luto comigo mesmo para vencer o racismo arraigado "civilizatoriamente" em mim, como se eu fosse a perfeição que se esguia por entre vários segmentos sociais que entravam meu eu fechado.

Somente a prática da liberdade em fazer a reexperiência da vida em novos moldes será capaz de repor minha dignidade na relação entre as pessoas.

Estou incapaz de amar.

Vou além, insensível ao amor.

Desacreditado do amor.

É preciso uma superação teórica e racional dos processos discriminatórios.

Porque existe um processo de amorosidade que liberta da discriminação e insere realmente todos em tudo.

Hoje é o dia em que devemos marcar a presença da vida.

Não amanhã.

Amanhã será a morte.

A vida é hoje.

Hoje é o dia do questionamento de nós mesmos.

Hoje é o dia do questionamento de todos os erros que passam em nossa frente.

O dia da justiça, em que sofreremos por princípios, ou venceremos com humildade e solidariedade.

O dia do diálogo, do ouvir e afinar, ou separar, e romper.

Hoje é único e insubstituível.

Estar no mundo e ser do mundo.

O rompimento da discriminação passa pelo processo de libertação pessoal, social, político, espiritual ou filosófico, etc.

Não existem dimensões onde não se possa libertar.

Somos coresponsáveis deste mundo conturbado, por não nos posicionarmos claramente diante dos acontecimentos, e no particular, diante do meu vizinho de bairro, dos jovens, das famílias.

A omissão é discriminatória, e advém do pensamento discriminatório.

Mas a sociedade pós contemporânea não peca mais.

Estão abertos todos os caminhos dos erros para se errar sem pecar, porque o pecado morreu sem sentimento de culpa.

Não existem confissionários auxiliares de nossas incapacidades de auto discernimento.

Ficaram no passado.

Está a falta de critério, como possibilidade para o erro.

É o mundo de hoje.




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