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Sudão do Sul: finalmente independente

Retirado do Zenit, interessante porque tem alguns aspectos históricos da longa luta separatista sul sudanesa. Como as duas crenças predominantes do Sudão do Sul são o cristianismo e o animismo, e não se conhecendo bem o animismo (que vem de ânima, alma em tudo), deixei uma explicaçãofinal sobre o animismo africano, retirado do Wickipédia

Primeiro país em reconhecer a nova nação foi o próprio Sudão


Terça-feira, 12 de julho de 2011 (ZENIT.org) – Em uma atmosfera quase de estádio de futebol – com gente até tocando vuvuzelas –, o Sudão do Sul viveu, no último dia 9, o tão esperado dia da sua independência do Sudão, tornando-se oficialmente o 54º país do continente africano e o 193º do mundo.


Na solene cerimônia, realizada na capital Juba, no mausoléu do líder independentista John Garang, que morreu em um acidente de helicóptero em julho de 2005, participaram dezenas de milhares de pessoas, formando, segundo a Neue Zürcher Zeitung (9 de julho), a mais numerosa concentração humana jamais vista na cidade situada às margens do Nilo Branco.


A celebração começou com as orações lidas por dois líderes religiosos, um muçulmano e outro cristão, Dom Paulino Luduku Loro. “Que Deus dê alegria a todo o nosso povo”, rezou o arcebispo católico de Juba, que quis recordar todos os que “nos expressaram sua solidariedade durante os longos anos de guerra” e pediu, além disso, um “novo entendimento” entre o Norte e o Sul (Agence France-Presse, 9 de julho).


O cume do evento chegou quando se recolheu a bandeira sudanesa e se içou a da República do Sudão do Sul, que, depois de Eritreia (1993), é a segunda nação africana nascida de uma secessão. A independência de Juba foi precedida por uma longa e sanguinária guerra civil entre o Norte muçulmano e o Sul animista e cristão que, explodindo em 1955, durou (com uma pausa de 1972 a 1983) até a assinatura do Acordo Geral de Paz (CPA), que se realizou em 9 de janeiro de 2005, na capital do Quênia, Nairóbi, entre o presidente sudanês, Omar Hassan al-Bashir, e os rebeldes do Movimento/Exército Popular para a Libertação do Sudão (SPLA/M) de Garang.


Calcula-se que a segunda fase da guerra civil – a mais cruenta – causou quase 2 milhões de vítimas e mais de 4 milhões de deslocados. “Nossos mártires não morreram em vão”, destacou o presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir Mayardit, dirigindo-se à multidão (BBC, 9 de julho). “Esperamos mais de 56 anos até este dia. É um dia que ficará gravado em nossos corações e em nossas mentes”, continuou o ex-chefe rebelde, que usava seu já característico chapéu preto de cowboy.


O primeiro país em reconhecer o Sudão do Sul na sexta-feira foi o próprio Sudão. Segundo a agência Reuters (9 de julho), trata-se de um gesto de boa vontade da parte do regime de Al-Bashir, sobre cuja cabeça pende ainda uma ordem internacional de captura emitida pelo Tribunal Penal Internacional (ICC) de La Haya (Holanda) por crimes de guerra e contra a humanidade, cometidos em Darfur entre 2003 e 2004. Al-Bashir participou também da cerimônia de independência. “Nós nos alegramos com os nossos irmãos do Sul pela criação do seu novo Estado. Compartilhamos sua alegria e sua festa. A vontade das pessoas do Sul deve ser respeitada”, disse o homem forte de Cartum, que pediu aos Estados Unidos que levantasse as sanções contra o seu país (BBC, 9 de julho).


Todos concordam em que, com a independência, começa o verdadeiro trabalho para Juba. Os desafios que esperam o país, um dos mais pobres do mundo, são enormes. O primeiro deles é o da segurança, não só a exterior, mas também a interior. Sobre o terreno do Sudão do Sul agem pelo menos sete movimentos de rebeldes que, segundo Juba, são financiados por Cartum. Para muitos especialistas, o verdadeiro inimigo do Sudão do Sul se esconde, de fato, dentro do país, e são a corrupção e as divisões étnicas.


Depois estão os complicados assuntos das fronteiras com o Sudão, da dívida sudanesa e sobretudo o do petróleo. Enquanto a maior parte dos jazimentos sudaneses (pelo menos 75%) se encontram no território do Sul, a infraestrutura para a exportação do ouro negro ficou nas mãos de Cartum. Ainda que o Sudão do Sul se veja obrigado a chegar a um acordo com o Norte, tudo indica que, para seu desenvolvimento econômico, precisará sobretudo da ajuda dos seus vizinhos Etiópia, Quênia e Uganda.


Como recorda a Reuters (6 de julho), o Sudão do Sul é, de fato, o principal destinatário das exportações ugandesas, que, segundo Uganda Exports Pormotions Board, chegaram, em 2009, a um volume de 184,6 milhões de dólares. No mesmo ano, o Quênia exportou bens e serviços no valor de 157,7 milhões de dólares rumo a Juba. Segundo um informe do centro de consulta Frontiers Economics, uma possível retomada da guerra no Sudão do Sul custaria aos seus vizinhos até 34% do seu PIB combinado durante um período de 10 anos. Juba é, além disso, o candidato mais provável para tornar-se membro da Comunidade da África Oriental (EAC), se os atuais Estados membros (Burundi, Quênia, Ruanda, Tanzânia e Uganda) decidirem ampliar este grupo.


Para o seu desenvolvimento, Juba tem, talvez, um surpreendente ás na manga: poderia tornar-se um destino para os amantes do safári. Como recordou o jornal espanhol El mundo (10 de julho), no Sudão do Sul se esconde um Serengeti “secreto”. Exploradores da sociedade zoológica de Nova York (Wildlife Conservation Society ou WCS) e do National Geographic descobriram, em 2006, uma grande migração em massa de herbívoros, quase maior que a do famoso Parque Nacional do Serengeti, na Tanzânia. Nesta migração participaram até 1,4 milhão de antílopes e outros herbívoros. Junto ao oeste da Etiópia, a região do Sudão do Sul onde se verificou esta migração forma, segundo El Mundo, o maior ecossistema de savana ainda intacto de toda a África.


Enquanto isso, a prioridade absoluta é a criação – quase do zero – de um sistema de saúde e educativo. Com uma população igual à de Milão e Roma juntas – observa Il Corriere della Sera (9 de julho) –, o novo país africano tem menos de 449 mulheres diplomadas na escola superior. Para ajudar neste colossal desafio, as autoridades do Sudão do Sul – um país no qual 1 de cada 10 crianças morre antes dos 5 anos e 1 de cada 10 mulheres morre antes ou depois do parto – há 400 ONGs ativas, além da Igreja Católica. Nestes anos, a diocese de Torit pretende, por exemplo, dedicar 9 milhões de dólares a projetos de desenvolvimento (La Croix, 1º de abril).


(Paul De Maeyer)
 
O Animismo Africano, segundo a visão de mundo religiosa africana, seria a relação cotidiana que os homens mantêm com Deus, ou deuses, e suas representações imediatas num “sistema de afunilamento”. É uma visão monoteísta na qual Deus se encontra num plano secundário, pois é representado por suas criações terrenas. Segundo Homero Homem, em Moçambique, as primeiras machambas, o negro africano, que era caçador, cultuava a presença de deus através da natureza, sua representação mais próxima de deus ao mesmo. Assim sendo, lagos, rios, árvores, o céu, a terra, o sol, o trovão, os raios, animais, todos, de acordo com a localidade, tornaram-se símbolos (como totens) de respeito, bom presságio (ou mau agouro) e adoração por serem criações divinas e, logo, representarem Deus no plano terrestre. E o próprio homem se encontraria nesse grupo de representações. Com o começo do contato desses mesmos homens com outros de tribos diferentes, e até ocidentais, e com a formação de uma sociedade, foi necessária a criação do culto a antepassados comuns a esse grupo étnico, um culto que acabaria sendo particularizado a antepassados consanguíneos, ou seja, cada família cultuaria também seus ancestrais. Quem deteria o poder de contato entre os habitantes e os seus ancestrais, que governariam o mundo dos vivos, na tentativa de predestinar caminhos a serem seguidos pela família, seria o mais velho, o idoso. E assim os mitos conduziriam as sociedades porque assim, num tempo espiritual, os ancestrais o fizeram.


Para o ocidental, a religião poderia representar certa resignação à morte, uma invenção de vida após a morte. Esse homem sente-se angustiado diante desse processo natural. Na cosmovisão africana, quando alguém morre ou retorna, isso não é sobrenatural, e sim natural. É uma prática que faz parte do comum, do prosaico. O homem tem angústia na morte, embora integrante da natureza. Obviamente, há dor na perda de um ente querido, no entanto a morte não é vista como um fim total, mas uma parte do ciclo vital.

O animismo africano não seria uma prática mágica em que os adeptos realizariam feitos fantásticos ou que creriam em coisas extraordinárias, como numa realidade fantasiosa. A visão animista africana faz parte do dia a dia como prática prosaica, não sendo um devaneio qualquer do indivíduo. São as implicações dos Entes Sobrenaturais na existência primordial resultantes no presente. É a terceira margem do rio sendo encontrada naturalmente. Logo, o contato entre mundo “concreto” e o mundo espiritual comungaria entre si.

[editar] BibliografiaPENNA, Fábio Rodrigo. ANIMISMO AFRICANO: MITOS, MEMÓRIA E ESQUECIMENTO EM UM RIO CHAMADO TEMPO, UMA CASA CHAMADA TERRA. Monografia de conclusão de disciplina do Mestrado em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, UFRJ: Rio de Janeiro, 2009. pp. 11,12 e 13.

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