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Plano para expulsar os cristãos do Iraque e do Oriente Médio



Presidente da Federação Caldeia fala do êxodo cristão

domingo, 24 de julho de 2011 (ZENIT.org) – Existe um plano para expulsar os cristãos do Iraque e do Oriente Médio, denuncia Joseph Kassab, diretor executivo da Federação Caldeia da América do Norte.

Kassab falou da situação e de como ajudá-los no programa de televisão Deus chora na Terra, da Catholic Radio and Television Network, em colaboração com Ajuda à Igreja Necessitada.

- Os cristãos estão fugindo em massa do Iraque. Como era a situação antes da invasão dos Estados Unidos?

- Kassab: O número de cristãos no Iraque antes da guerra de 2003 era um milhão e duzentos mil. Agora são menos de 300.000, e a maioria deles teve que fugir para o norte do Iraque atrás de mais segurança. Outros 300.000, 400.000, estão procurando asilo como refugiados nos países vizinhos, Jordânia, Síria, Turquia, Líbano e Egito. Alguns na Europa. Uma das razões disso é a violência cruel contra eles. As atrocidades são intoleráveis e incríveis. Os cristãos não andam armados, não têm uma milícia que os proteja, não têm tribos que os ajudem. Então viraram alvos fáceis. E os cristãos iraquianos são conhecidos como a elite, os mais educados, os acadêmicos, o mundo do pensamento iraquiano.

- Como era para os cristãos na época de Saddam Hussein?

- Kassab: Vamos explicar assim: com Saddam havia ordem, mas não havia lei; agora não há nem lei nem ordem. De certa forma, então, eles estavam melhor naquela época, porque havia um pouco de ordem, e em certo sentido havia algo que os protegia. Até que, na última década, Saddam tinha se tornado impiedoso, perseguia os cristãos de diversas formas. Ele mandou os seminaristas para a guerra contra a vontade; os obrigou a usar armas e matar gente. Nacionalizou as nossas instituições cristãs e proibiu batizar os cristãos com nomes bíblicos. Ele obrigou os cristãos a se filiar ao partido Ba’ath. Aconteciam todos esses abusos, mas, em termos de segurança, aos cristãos estavam melhor do que hoje.

- Como o senhor descreve a situação política do Iraque de hoje?

- Kassab: Depois da guerra houve muitas mudanças drásticas. Uma das mais importantes foi a formação de mais de 300 partidos políticos. Antes da guerra só havia um. Os norte-americanos marginalizaram o exército iraquiano, e agora os soldados lutam contra os americanos e contra o governo recém-criado. O desemprego aumentou 90% e as pessoas não sabem o que fazer. A situação continua caótica. Se você me perguntar se a democracia surgiu no Iraque, eu duvido muito. O princípio da democracia se baseia em dois pilares: o primeiro é o governo da maioria. O segundo, que é mais importante, é o reconhecimento e o respeito pelos direitos das minorias, e o respeito pelos direitos civis e religiosos. Isto não aconteceu no Iraque, então a democracia não germinou ainda.

- Na nova constituição iraquiana, existe um artigo que garante a liberdade de expressão religiosa. Existe liberdade religiosa?

- Kassab: A constituição reconhece a liberdade religiosa, mas a constituição é muito breve em termos de direitos das minorias religiosas como os cristãos. Há uma contradição com o artigo segundo, que diz que o islã é a religião majoritária e que não pode ser emitida nenhuma sentença contrária ao islã. Quer dizer que as pessoas que não professam o islã têm menos direitos, na prática. Eu acho necessário revisar a constituição do Iraque. Os cristãos deveriam ter mais representação no parlamento e no governo para poderem sobreviver.

- Os cristãos sofrem cada vez mais perseguição e violência. Por quê?

- Kassab: Eu acho que existe um propósito oculto. Acredito que o objetivo é expulsar os cristãos não só do Iraque, mas de todo o Oriente Médio. É o que está acontecendo, mas a comunidade internacional não fala nada. Não sabemos por que eles querem esvaziar esta região de cristãos, porque aqui é o berço do cristianismo.

- Os cristãos são o povo “indígena” da região?

Kassab: Os cristãos são os indígenas da região, sim, porque os nossos antepassados e a nossa história remontam a 5.000 anos, a 3.000 anos antes de Cristo. Eu não entendo por que isso acontece hoje. Eu acho que existe mesmo essa agenda oculta para deixar nesta região em particular uma religião só, em vez de ser uma região com diversidade de religiões.

- Do que exatamente nós estamos falando quando falamos de violência contra os cristãos?

Kassab: De muitas atrocidades e histórias não documentadas, terríveis. Por exemplo, tivemos o caso de uma mulher cristã de 24 anos, chamada Rita. Por causa das ameaças e da intimidação ela fugiu do Iraque para a Jordânia. Depois de um mês lá, ela ouviu dizer que os três irmãos dela, que tinham ficado no Iraque, tinham sido sequestrados pelos fundamentalistas. Ela teimou em voltar para ajudar a salvá-los. E foi sequestrada pelos mesmos sequestradores. Ficou cinco dias no cativeiro, apanhou e foi estuprada vezes e mais vezes! A família pagou o resgate. E aí ela pôde contar a história. Ela disse que durante aquela experiência terrível rezou para Deus e prometeu a Cristo que seria cristã até a morte.

- Os cristãos morrem por serem cristãos?

Kassab: Sim. Temos o caso de Ajad, de 14 anos. Seu trabalho era guardar o gerador elétrico de seu bairro. Assim ele ajudava sua mãe economicamente. Seu pai tinha sido assassinado pelos insurgentes. Uma noite, enquanto estava no trabalho, um fundamentalista o cercou e disse: “Que está fazendo aqui?”. Ele respondeu: “Estou guardando isto; é o meu trabalho”. Viram que ele usava uma cruz e lhe disseram: “Você é cristão?”. E ele: “Sim, sou”. Eles disseram: “Tem de se converter ao Islã, ou morre”. Respondeu: “Prefiro morrer como cristão a converter-me ao Islã”. Eles o mataram e o crucificaram. Depois, lançaram seu corpo em uma fogueira. Esse é o tipo de história que se ouve no Iraque.

- Certo número de membros da hierarquia católica, bispos, sacerdotes e diáconos, tem sido objetivos.

- Kassab: 59 igrejas no Iraque foram queimadas, atacadas a bomba, e muitos membros do clero de nossa Igreja foram sequestrados, assassinados. Tudo que é um alvo fácil, sobretudo os cristãos, converte-se em objetivo dos fundamentalistas.

- Por que os cristãos são um “objetivo fácil”?

- Kassab: A razão são suas crenças cristãs. Acreditam na paz. Não gostam de lutar. Ademais, são donos de muitas empresas e são empresários de êxito. Pagam os resgates quando são sequestrados. É também uma forma como os fundamentalistas intimidas estes grupos religiosos minoritários.

- Já ouviu relatos de muçulmanos moderados que trabalham para salvar os cristãos?

- Kassab: Sim. Há muitas histórias a contar sobre muçulmanos moderados que protegem os cristãos iraquianos. Isso é especialmente verdade entre vizinhos. Esse é um sinal positivo no Iraque, que espero que prossiga.

- Os cristãos estão se deslocando para a planície de Nínive. É uma boa ideia?

- Kassab: Sim e não. Explico: é uma boa ideia que nossa gente se dirija para áreas seguras, ao menos pelo momento, para sobreviver. Ali eles estão perto dos curdos, que, nesta situação, simpatizam com todas as minorias religiosas do Iraque que estão sofrendo. Mas, ao mesmo tempo, há muitos mal-entendidos na ideia de que, se se faz isso, tornam-se vulneráveis porque se concentram em uma área. Não é isso que estamos pedindo. O que pedimos é uma zona de administração própria, onde possam cuidar de si mesmos. Outra proposta é que deveria haver um Conselho Iraquiano de Segurança para as Minorias.

- Que podemos fazer?

- Kassab: Temos de informar, nossa palavra tem de ecoar. Tem de se tornar pública, como estamos fazendo agora. Também gostaríamos de ver as organizações humanitárias na região, para oferecer ajuda imediata às pessoas. Trata-se de um apelo importante para resgatar nosso povo, especialmente os refugiados. Eles estão passando por um momento terrível nos países em que buscaram asilo. Agora é o momento de chamar à reconciliação todas as pessoas do Iraque, para que se unam, e não se fragmentem. Quando isso ocorrer, os cristãos sem dúvida ficarão em situação melhor.

- Que seria de um Iraque sem cristãos?

- Kassab: Os cristãos, como disse, são parte integrante do Iraque. São a elite. São os com maior grau de educação e contribuíram muito para o Iraque, sem receber nada em troca, nem ter uma agenda oculta. Por isso, o Iraque sem os cristãos não será o mesmo Iraque que conhecemos durante séculos.

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