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Fernando Morais: posição sobre biografias é medieval


Fernando Morais
Fernando Morais: ameaça à historiografia brasileira





















18 DE OUTUBRO DE 2013 - 17H44 


A polêmica sobre o direito de escritores produzirem livremente biografias corre solta, e o cenário será este até 12 de novembro, quando o STF se pronuncia sobre a questão. Um dos principais biógrafos brasileiros contemporâneos dá aqui sua opinião.

Por Fernando Morais


O escritor e jornalista Fernando Morais, autor de obras como OlgaChatô e O Mago, classificou como "medieval" a posição de alguns artistas brasileiros sobre a publicação de biografias.

A polêmica começou com a declaração de integrantes do grupo Procure Saber, que inclui - entre outros - Paula Lavigne, Caetano Veloso, Chico Buarque, Roberto Carlos e Djavan. A entidade defende dois artigos do Código Civil que proíbem a divulgação de informações pessoais em casos que atinjam a honra ou se as obras se destinarem a fins comerciais. 

A associação ainda pede o pagamento de uma porcentagem ao biografado sobre os ganhos dos escritores com o livro. Fernando Morais disse que ficou surpreso com a quantidade de nomes de peso que aderiram à iniciativa.

“Se prevalece, se ganha esta tese, acabou a historiografia brasileira", justificou o jornalista. Uma audiência pública foi marcada para o dia 12 de novembro no STF (Supremo Tribunal Federal) para discutir o assunto.

"Não dá para escrever biografias"

O escritor disse, inclusive, que vai parar de produzir biografias por causa do medo que as editoras têm de serem processadas pelas personalidades abordadas neste tipo de obra – seu último livro do gênero será o volume que ele escreve atualmente sobre o ex-presidente Lula.

"Não dá! Quando você leva os originais de um livro seu para um editor, antes de ler para saber se tem qualidade estética, profissional, se foi bem apurado, ele dá para um advogado ler. E é evidente que o advogado vai procurar pelo em ovo, porque se acontecer alguma coisa a responsabilidade é dele", reclamou Morais.

Questionado sobre até onde vai a privacidade de um personagem público e se, muitas vezes, os biógrafos não são invasivos em determinados aspectos, o escritor é irredutível em sua opinião sobre os fatos que devem ser documentados.

"O que o artista faz dentro do banheiro, no quarto dele, não é da conta de ninguém. Agora se faz na rua, na praia, seja o que for...", explicou o jornalista. "Vida de pessoa pública é pública". Segundo Morais, a regra vale mesmo para fatos privados do biografado – não os obtidos à revelia de alguém pelo biógrafo, mas aqueles que se tornaram anteriormente de conhecimento geral.

Fernando Morais também ironizou a afirmação de Djavan sobre as biografias, que renderiam a escritores e editores "fortunas", enquanto aos biografados restaria somente "o ônus do sofrimento e da indignação".

"Eu tenho 67 anos e vivo exclusivamente de livros há 30 anos, mais ou menos. Se eu ficar três meses sem fazer um freelance, arrumar algum trabalho eventual, não pago o supermercado, não tenho dinheiro para pagar o condomínio do meu prédio", rebateu o biógrafo. 

"Perto de fazer 70 anos, o único bem que eu possuo é a casa onde eu vivo. Agora vem esse sujeito dizer que eu acumulei fortuna? Vá pintar macaco", indignou-se Morais.

Fonte: band.com.br

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