Precisamos nos encontrar
um dia destes por aí,
no meio
das avenidas congestionadas
metrôs lotados.
Deve haver
uma mesa vaga
em algum praça
de alimentação
de shopping
um café de máquina
por perto
no meio
deste emaranhado
de ocupações
falsificadas.
Porque
é preciso
fazer fluir
uma contenção
de desejos
sonhos semi-despertos
aguardando aval
para nunca
ocorrerem.
Necessito dizer
da velhice e da jovialidade
da pureza e da infâmia
dizer o que somos
e o que não somos.
Deve haver
um táxi vazio
em meio
a esta chuva
este turbilhão
de gente
que se aperta
resmungando
do aperto.
Dizer que o tempo
não volta.
Retirar
ossos e músculos
amarrotados
do armário
aguardando
a ordem
do silêncio
dos lençóis
onde Deus
é lembrado
no apagar
das luzes
espremido
entre a noite
e o sonho,
sem espaço,
nós semideuses
de nossas incapacidades.
(Poema "Um dia destes..." do livro Gota Serena)
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