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Mostrando postagens de 2025

OMISSÃO

  Eu não estava aqui,  eu não sentei à mesa,  não dirigi a palavra. Eu deixei correr  o que acontecia  sem me opor. Eu não parecia  estar presente,  não observei  como devia. Eu olhava  para mim,  como o único. A realidade  foi sendo  desenhada  desenganada,  até desaparecer... Eu fingi  não ser comigo,  segui  como se tudo  estivesse bem... Hoje trago  a feição inexpressiva,  o corpo coberto,  a boca fechada. Hoje nada tem sabor. Busco-me em mim  e não mais  me encontro.

DESPERTAR

  Estes montes altos  que sobrevivem nas penumbras... Estas florestas densas  sempre desbravadas... o despertar dos grilos... Esta noite que amanhece,  ao passear das mãos... Este dorme e acorda  não se decide... essa sensação de novo   no mesmo de sempre... Essa visita de vida constante... Este mar bravio sem margem... Este sonhar sobre a realidade... Esta calma da noite, absolvida... Estas pernas que abrem e fecham,  como conchas,  tesouros profundos... este desejar das marés,  feitiço por terra... esta sombra que não se assume,  estes olhos acostumando-se à luz. Estes beijos deixados  à porta de entrada,  este convite para a manhã...

PEQUENOS

  Somos os pequenos conhecidos... das pequenas presenças,  das poucas palavras. Não nos importamos  com as modestas divulgações,   e dividimos alegremente  pequenos sucessos. Prezamos as pequenas palavras  e aguardamos longo tempo  até que possam ser ouvidas. Conhecemos os pequenos ouvidos,  que se posicionam,  mas não incluem  o coração.  Somos das pequenas decisões  que nem precisam  ser conhecidas. De tudo participamos  sorrateiramente Raros os grandes conhecidos.   A estes nossos lauréis,  nossas reverências. Somos sonhos pequenos  que passam rápido. Se puderes, escute...

AMANHECER

  Que nasça o dia e novamente pensamos tudo ser possível. O Sol nos faz levantar. Acendamos as esperanças que se apagaram no decorrer na noite. Despertar com olhos novos, novas palavras, ouvidos atentos. Uma brisa leve alegra pulmões compassados, acaricia o corpo, deus natural que interage através da natureza, Deus amplo. Há uma tumba onde guardamos as descrenças.  As vezes vem nos assombrar com suas dores de sempre. Que o dia siga com suas lutas e possamos ir colocando as descrencas, velório em vida, em seu devido lugar.

QUEM SE IMPORTA?

  O poeta  canta  e espera,  depois chora.  Acredita sempre no verso,  como uma meia crença,  criança perdida  em meio ao mundo. Plantei uma primavera amarela  no canto da casa  e já a vejo dar flores  do outro lado do muro O poeta é um ser só,  canta para si mesmo,  prepara o terreno e se diverte, eco interno, poucos gostam. O poeta é um  palhaço mudo  que escreve,  cego que vê,  antevê Perdido no tempo  vive a temporalidade,  quem se importa? O poeta está sempre  abrindo as portas  e alertando. Gosta de despertar a inconsciência...

PECADOS NOTURNOS

O consolo dos meus erros  está na multidão de pecados  que se espraia pelo mundo. Minha falhas  tem muitas companhias  guardadas a sete chaves. Uma diz à outra:  cala a boca!  e assim vão vivendo  escondidas, a liberdade.  Solto a voz  como se alguém  pudesse ouvir do nada  e me amar.  A quem me resta apelar? Meu corpo treme  à beira da transcendência,  viagens inusitadas. Desperto  nas lentas badaladas  do relógio,  variando o pêndulo  pra cá e pra lá,  sem pressa. Conto o tempo  perdido em mim,  que desperdiço  em nada,  enquanto lentamente  a aurora aguarda  eu meditar.

NAO FAZER NADA

  De vez em quando me dá uma vontade de não fazer nada. Absolutamente nada. Vontade e voltar à estaca zero de tudo. Não digo a ninguém...não é segredo, nas sabe como são as pessoas, vão logo pondo explicações, teorias.  Acontece que este nada não quer se expor...quer ser sorrateiro. Afinal, chega o momento de se ter um cansaço de tudo, como se, de repente tudo perdesse a importância. Então, já vou dizendo,  não questionem! É assim mesmo, algo meio maluco que vai tomando conta de si, sem se materializar numa decisão formal. Depois de um tempo passa...

POR DENTRO DA DOR

Por dentro da dor,  há um caminho  de impotência  que obriga  a compreensão  adotar a humildade. Por meio dor,   que vem à tarde,  grandes virtudes  escorregam  de seus pedestais. Seremos então,  simplesmente,  José e João,  Maria e Débora,  com a simplicidade  do parto. Veremos então  as grandes distâncias  que nos pusemos,  desnecessárias, que  impedem   o ermergir  nas fontes  cristalinas  da naturalidade.  No grito da dor  ecoa também  o sofrimento  das estruturas,   que aprisionam,  sopram lençóis  secando  nos varais  do esconde esconde,  aplainam  encostas  retém desafios   matam os sonhos,  familias inteiras. Dor que não  se compactua  com a morte,  resiste à morte,  quer vida Dor que sofre,   tardia,  lavando  as cascas  do tempo. Por de...

DE REPENTE

  Pode ser eu... ser você,  não sei. Pode ser  a qualquer hora,  momento imprevisto. Pode não haver avisos,   enquanto tudo ocorre  conforme o programado. Pode haver até  que nunca se pense  nesta possibilidade,  que acontece. Porque o caminho  traz um início  e um fim  em cada passo  compasso,  relógio flutuante  do tempo,  vasto espaço  de esperancas  e descrenças.  Pode não acontecer  nada ainda  e ter de esperar  passar a despreparada  impaciência,  olhar as possibilidades  e seguir  desconhecendo  que a qualquer instante  pode acontecer...

VIDA QUE SEGUE

  Usar mais  os olhos,  os ouvidos não.  Mais as mãos,  não os pés.  Silenciar  a boca,  aproveitando o tempo,  menos energia. Guardar a cabeça  de tanta futilidade,  refrescar a consciência,  pesa sempre muito. Não ser fechado,  mas também  evitar ser libertino  em abrir. Mais saber  convencer  que ter opinião. Nao esquecer  de chorar junto  com o coração.  Estar por perto sempre,  mas saber sair também.  Ter pensamento aberto,  pensar livre,  é saudável. Gostar de amar,  brincar muito de amar. Abraçar quando é necessário,  e também gratuitamente,  sem segundas intenções . Descobrir cada momento  em sua circunstância,  entendendo sua frequência,  grau de exigência.  Despedir-se dos objetos  antes da morte,   ser simples,  mas se quiserem  te cobrir de coroas  em vida, deixe,  mas permaneça  em ...

MEDITANDO "A ARGILA" DE RAUL DE LEONI

    Primeiramente vamos ao poema ARGILA, que me motivou a tentar conhecer melhor quem foi Raul de Leoni. ARGILA   Nascemos um para o outro, dessa argila De que são feitas as criaturas raras; Tens legendas pagãs na carnes claras E eu tenho a alma dos faunos na pupila...   Às belezas heróicas te comparas E em mim a luz olímpica cintila, Gritam em nós todas as nobres taras Daquela Grécia esplêndida e tranqüila...   É tanta a glória que nos encaminha Em nosso amor de seleção, profundo, Que (ouço de longe o oráculo de Elêusis),   Se um dia eu fosse teu e fosses minha, O nosso amor conceberia um mundo, E do teu ventre nasceriam deuses...     Raul de Leoni foi um poeta, e muito mais, do início do século XX, tendo vivido apenas 31 anos entre 1895 a 1926.   Fechou-se em casa, nos últimos 3 anos de vida, por razões de tuberculose, acompanhado por solidão forçada e quem sabe desejada também. Transita entre o final...

PROCURA TARDIA

  Estou procurando alguém... Ele se acha um pó. Anda disperso por aí,  pelas estradas da vida. Pouco ou nada influi,  apenas rega  os jardins,  observa muito  as formigas e retira as folhas  caídas... Constrói muros  e os derruba  a toda hora. Quando vê  o dia  já se foi. Deita-se insatisfeito  por não ter feito  a revolução,  mas percebe  legados de justiça  plantados, agora  envelhecido.  Conta o tempo  devagar,  nunca termina. Passa o dia  regando o jardim  debaixo do Sol.

DELETADO

  Tenho uma tecla  que me faz  perder tudo,  traído  pela tecnologia. Sinto-me como  terra arrasada,  terem arrancado  parte do corpo.  Não recuperarei  este pedaço  de alguma  coisa,  presa  num texto,  contexto,  deletado  sem querer. Vasculho onde passei,  rastreando com os olhos  para ver se encontro... Qual nada! Tudo perdido. Sigo deixando  partes úteis  e inúteis  de mim na indiferença  da vida,  enquanto suspiro  nos passos. Se encontrarem  me avisem,  se for importante...

AGUARDANDO

AGUARDANDO Tenho espaço para você,  veja como abro caminhos,  rego desertos. Quem sabe  você descubra  os mistérios  que guardo,  escondido  de todos, de mim... Tenho tempo para ti,  alertei a  fé,  impede de ver  espinhos e flores... Sonhas perfeicões divinas,  amedrontam minhas dúvidas  na realidade sufocante... Tenho perguntas a fazer,  martelam e martelam: Porquê cruzas as pernas nas matas da cidade? Porque vestes pernoites de vigílias? Esvoaçam... Estrelas vagam em êxtase silencioso? Tenho tudo preparado,  aguardando que venhas,   passos escondidos  por onde observo tudo,  e não te encontro... Sou uma sombra a busca de luz...

DISTRAÍ-ME

  Distraí-me nas luas... em qual me conheceste?  Imprevisto,  decifro nuvens fugidias  antes que ventos cegos  percam caminhos livres. Andei invisível,  hoje grito,  não sei a hora Distraí-me antes  que os lírios  despertassem  as ânsias  do perfeito. Distraí-me  enquanto andava nu,  sem regras,  revoltado com tudo... Conheces minha luas?

Edu Lobo - Reza — Vídeo TV Alemanha, 1966

#39 Entrelinhas Vermelhas | Um mês de Trump e o papel geopolítico da China

POR HORA...

  Vou deixar este momento para você.  Momento de leitura desinteressada e morna.  O quando, pode ficar impregnado de vida,  e retirá-lo deste estado letárgico inconsciente  em que deitas o dia,  e sombras disfarçam a realidade.  Tão simples é o segredo,  que pode alavancar teu ser,  dos velhos horários  das camas eternas. Dê-se a oportunidade de ser,  estique as velhas dobras  em que foste embrulhado  como a um presente  para a ordem.. Porque tudo está à mão,   tudo pode acontecer.  Importa o permanente despertar.  Importa caminhar  surpreso com a verdade do dia  o mistério da noite. Pertenço a mim,  montanhas,  abismos  e planícies.  Pertenço ao mundo,  sou mundo Pertencimento  múltiplo  desconhecido.

UM DIA...

  Um dia  tudo se apaga. Os aromas e sabores  que permearam o caminho  perderão sentido. A grande busca  terá enfim  sua descoberta. Não mais  serão necessárias  tantas noites despertas,  tanta reflexão  no abismo profundo  do ver-se. Não mais  as grandes prisões  do amor,  a esperança dizendo  a si mesma que pode. Data derradeira  entre a crença e a morte,  data póstuma oculta e revelada.  Quem sabe os lírios  se abram enfim,  e proclamem a eternidade  do belo no agora,  quem sabe  estávamos mortos  e não sabíamos,   quem sabe o novo  saia do invólucro,  renasça  Importa caminhar ermo,  encontrar este e aquele,  importa amar,  este frágil elo  que tudo sustenta,  divertir-se dos passos,  dos saltos,  das quedas,  e esperar,  como se tivesse  de se apresentar  em algum grande  tribunal...

FINAL DA NOITE

  Como temos sobrevivido meu amor... um mundo que não nos entende, nos leva em mar tempestuoso, jogando o barco de um lado ao outro. Queria a mansidão dos jardins dispersos fora dos trajetos, e só encontro o tempo comprimido. Sobrou o fim da noite para nosso silêncio. Sobrou a sobra, quase nada para nós. Sobraram sonhos perdidos no desencontro diário. Ainda assim sobrevivemos nas confidências guardadas no outro lado dos montes onde o Sol descansa extenuado do homem e da mulher. Peço não se perca este pouco que ainda resta no pouco que somos do pouco que temos. Somos assim, acamados noturnos, assim seguimos... Curtir Comentar Enviar Compartilhar

Vinicius de Moraes e Baden Powell Samba em Prelúdio

Vinicius de Moraes - Dia da Criação (Porque hoje é sábado)

EQUAÇÃO

  Enquanto estou por aqui  decifro uma equação  que não fecha. O sonho  não bate  com a realidade,  o amor  afoga-se nas instituições,  os caminhos  tendem a ser  os mesmos,  encontramo-nos  em diferentes solidões.  Enquanto estou aqui  estranho muito  a combinação  do belo com a dor. Deixo um rastro  de esperança  e uma alegria  guardada  do fardo diário. Depois dos passos,  me olho para ver  quanta força  ainda reuno,  e sigo em busca  de um resultado,  para esta equação que não fecha.  Quem sabe  tudo esteja aberto  e eu lógico,  quem sabe  o uivo dos lobos  transcendam enfim  as montanhas  e alcancem  os roseirais  do jardim  de casa  em minha  infância.

A POESIA COMO EXPRESSÃO DE HUMANIDADE

 As ditaduras são secas, de pouca conversa, preferem bocas fechadas.  Quando falamos, saímos de dentro para dizer, o que somos, o que pensamos, o que desejamos. Abre-se, então, a dimensão da vida como ela é. Este sair possui várias formas de expressão, e a poesia é uma delas. Ela provém de uma fonte indefinida onde a dor, a fome e a exclusão ainda não se metabolizaram em palavras, estão aí em estado latente, no caldeirão da vontade, em ebulição. A poesia decifra os meandros do dia a dia, os espaços apertados da sobrevivência, os pratos vazios da ordem, e aponta diretamente ao coração o alento e a clareza necessários para manter a esperança acesa. Nem sempre é bem vinda, porque a rudeza da vida atinge a todos, mesmo aos esclarecidos, nem sempre abertos à sensibilidade necessária para interagir com quem sofre.  Ela rompe as barreiras gerais e abre um diálogo íntimo entre o eu e o nós. Descobre as partes ocultas de quem sofre e as desnuda, conscientiza. A humanidade não dese...

AVAL AO CARNAVAL

  Que o confete  se prenda aos cabelos por muito tempo, escondido de todos,  e a serpentina  interligue mais  que as redes,  divulgue  apenas alegria. Que o bloco  seja da felicidade,  e o Samba Enredo,  o Hino Nacional,  por alguns dias. Será o encontro  das raças,  e da fé na paz,  sem religiões,  com todas  as religiões. Que as cores  readquiram  seus verdadeiros  realces,  enterrem  o cinza diário e o beijo  deixe de estar oculto,  espremido nos lençóis,  mas livre,   na claridade  do dia. O pecado  não mais  será pecado,  e os cumprimentos  sejam inesperadas juras de amor. Não mais  se marchará... tornar-se-ão  passes novos  de danças,  ritmos originários. A realidade  desfazer-se-á,  finalmente, em fantasia  possível  e esperada. Os caminhos  serão todos,   os encontros...

DECADÊNCIA

  de  Raul de Leoni Afinal, é o costume de viver Que nos faz ir vivendo para a frente; Nenhuma outra intenção, mas simplesmente O hábito melancólico de ser… Vai-se vivendo… é o vício de viver… E se esse vício dá qualquer prazer à gente, Como todo prazer vicioso é triste e doente, Porque o Vício é a doença do Prazer… Vai-se vivendo… vive-se demais, E um dia chega em que tudo que somos É apenas a saudade do que fomos… Vai-se vivendo… e muitas vezes nem sabemos Que somos sombras, que já não somos mais Do que os sobreviventes de nós mesmos!…

Verão quente no sudeste e sul do Brasil

Incêndios em edifícios, fábricas, campos e até nos celulares.  Paradoxalmente, pneumonia nas pessoas, complicando principalmente a vida dos idosos.  Este tem sido o verão das regiões sudeste e sul do Brasil. A maioria das pessoas considera anormal a situação, mas nem todos identificam nisto como parte das  grandes alterações ambientais pelo qual o mundo passa. Estamos nos destruindo e não temos unanimidade quanto as melhorem ações a serem implementadas.  Deixamos uma imagem de ineficiência diante de um conglomerado de problemas ambientais.

A CONTA GOTAS

  Faço poemas a conta-gotas para não inundar a realidade de sonhos. Deixa enfastiado logo... A vida é real, sem poesia. Faço poemas como quem teima provoca, depois é esquecido. Questionar é inerente ao verso inverso controverso, direto a coração. Linguagem translúcida, líquida, musical, quase divina, extratemporal.

DEPOIS DO AMOR..

  Tanto tenho me despedido, que de repente fiquei só! Não quis que assim fosse, mas o tempo foi roubando um a um, até que se foram todos. De início, não me dei conta, continuei como se ainda estivessem, distraído que era. Com alguns mantinha pouco convívio, outros mais; somado aos projetos de vida que me ocupavam, a vida foi seguindo em frente. Interrupções fortes, no entanto, fizeram-me perceber o quanto faziam parte de mim, pela primeira vez chorei. Foi gerando em mim, uma sensação de abandono, existencial, em meio a multidão que nada percebia, seguia adiante. Hoje tenho consciência de estar só: eu comigo mesmo, acompanhado, apanhado na solidão Agora, os dias passam sem eles... Olho para o Sol e me ofusca a claridade. A Lua anda escondida de mim, não me namora mais, canta trovas, nem recita mais canções de amor. Vou seguir meus dias até desaparecer... nesta transitória passagem inútil . Sorrisos, lágrimas, grandes ações, poder... tudo perde importância no decorrer do percurso. Es...

ENTARDECER

  Ao por do dia guardarei um silêncio  de agradecimento;   responde mais  que mil palavras  dispersas na surdez  do mundo. Direi de minha desatenção,  apesar do grande esforço  do tempo acumulado. O pouco  será suficiente para o tanto  a ser feito? A vida escorre  em semiconsciência entre saber  e desconhecer-me. Não sou  quem procuro,  desconhecido de mim. Sim, a alegria é gratuita,  mas a vida tem seu preço. Vou guardar silêncio  em respeito ao eu  que nunca nasceu,  e ao outro, póstumo vivo. Que celebrem  o desencontro.

PROCLAMAÇÃO OCULTA

  Quero deixar claro  minha profunda  escuridão.  Busco e busco,  tateio muito,  solitário,  antissocial. Encontro poucas respostas, mal sei se explicam algo, sei que continuo  com minha insatisfação. Interrogo-me sempre,  o tempo me faz  desconhecer tudo,  destruir preconceitos, ficar nu... amigo das descobertas. Achego-me  à beleza  à natureza  como perfumes,  aromas de vida,  nesta dura caminhada  de dores e mortes... Por enquanto  discirno as intenções  e marco presença  próximo aos pequenos.  Não venham  me matando  aos poucos,  estou atento  às intencionalidades, vivo oculto,  estudando cores,  suas variações. Hoje peguei-me  colorido,  amanhã cinza,  depois não sei,  conheço fisionomias

RECOMENDACOES NAS PASSAGENS DE ANO

Vou me guardar um pouco  nesta passagem de ano. Respeitar o tempo  que se acumulou em mim,  e se esvai assim que vem. Guardar-me dos sonhos impossíveis,  eu que sonho tanto,  para não decepcionar-me,  mas sem destruí-los... são os mais verdadeiros. Guardar-me da frigidez,  e seja eu sempre  meio imperfeito  meio excitado,  de quando em vez. Guardar-me dos meus limites  constantemente batendo  nas arrecifes,  ondas nas rochas da fé  e do conhecimento. Guardar-me do passado,  permanentemente refeito  em descobertas presentes; e do futuro,  esquecido no agora. Guardar-me do desamor,  tão fácil e corriqueiro,  na busca do amor,  tão difícil,  crítico de mim. Ah...o ano que se vai,  que vá logo,  fique para trás,  porque vejo  e ainda busco vida  escondida nos olhos,  nos livros,  na caneta,  papel...

DOMINGAR

  Domingo é dia  da institucionalização  da preguiça,  tão perseguida  pelo capital. Dia de  não se fazer nada,  não desejar nada;  se for o caso passear  por passear,  sem recitar. Os poemas dormem  nos domingos,  porque os leitores,  que se cansam fácil;  neste dia então,  nada leem. Ah...não ter  de escrever,  de declamar,  rimar.  Há um tédio  neste nada. Do que será? O que se produz  tem um limite,  e este limite  termina no nada, e o nada,  o limite do nada,  é um tédio  da inutilidade de tudo,  descoberta  inconsciente  profunda. Ah domingo  das velhas  cavernas  ancestrais,  que evocam  longas contemplações  do por do Sol,  das estrelas noturnas. Descanso na realidade  do vazio de si.

REVELAÇÃO

A vida é um mistério que possui muitas profundidades. Não existem portas, palavras, não podem ser descritas, encontradas, mal sabemos quando estamos nelas, ou saímos. Não existem caminhos únicos, seguem sendo mistérios. A busca é um afogamento silencioso, que não sabe onde cai, difícil queda da realidade. Profundidades elevadas, como as que alçam o céu. Profundidades, que não sabem sequer da superfície em que ainda permanecem . Muitos sequer consideram haver mistérios, passam a vida sem nada examinar. Quem sou, se desconhece, acompanha toda a vida. A razão de viver, é profundidade raramente encontrada, aos poucos, por poucos. O amor é mistério cultivado, também pode ser encontrado, requer esforço. Destes todos, de algum jeito faço parte, pois não sei de tudo, leigo. Não saber nos torna mais felizes? Deixem os mistérios descansarem onde estão... Belos são os mistérios, escondem uma totalidade da qual ainda não estamos aptos a decifrar. Pobre de mim que passo os dias me interpelando...