sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

ONDE TE ESCONDES?

 


Onde escondi 

os versos 

que não recitei, 

o coração 

que não guardei, 

quando passavas 

por mim?


Explodiam 

como loucos, 

desordenados, 

roucos,

sem saber 

se podiam sair.


Onde estava eu 

quando te vi partir, 

sem pernas, 

sem braços, 

sem palavras ?


Desapareceste 

de meu olhar 

como a gazela 

que se embrenha 

na mata, 

distraída dos perigos.


Meus versos esquecidos

deixam a escuridão 

de um cego 

recitando sua ausência 

perdida

quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

SÓ PEÇO...

 


Só peço um tempo, 

não sou dono de mim. 


Também não sou 

dono do tempo, 

para pedir algo, 

apenas cumpro-o, 

obrigatoriamente, 

sem saber direito 

seu proveito.


Tempo para pensar, 

descobrir, 

tempo para agir, 

se este ainda 

for o tempo.


Por isso peço

a alguém,

quem?

se estou 

no aquém, 

no além? 


O que me ajusta? 

Desajustado que sou.


Clamo sim, 

ao infinito, 

ao Deus inaudito, 

que se entorna 

em mim, 

eu nele.


Só por isso peço, 

peco, 

dou um sumiço,  

quem sabe 

ligeiro, 

quem sabe, 

inteiro...


Vou conseguir tê-lo?

Ei-lo!

Já está!

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

HERANÇA VIRTUAL

 


Estou dando o meu lugar para você.


Não se preocupe, 

não se trata de tomar, 

mas de ceder 

amistosamente.


Sei do meu tempo, 

a tarde quando vai terminando 

guarda semelhança 

com o amanhecer, 

na diferença que se dorme, 

eu um notívago. 


Já não distinguo um do outro, 

somo-os do meu jeito. 


Então fique à vontade 

porque os espaços 

e os tempos não tem donos, 

possuem sua própria lógica 

e aguardam serem utilizados, 

tão esquecidos que são. 


Olho para trás 

e vejo duas pessoas: 

uma desfrutando alegremente tudo,

esquecendo-se do entorno; 

outra, centrada e consciente, 

buscando trajetos de Libertação. 


Andam de bracos dados 

nas diversas ocasiões. 


Ainda não encontraram 

a fusão que tanto desejam, 

seguem, uma olhando a outra, 

ora pondo reparos, 

ora caminhando juntas.


Enfim deixo esta herança 

existencial na angústia 

de não saber se alguém 

tomará posse dos despojos, 

se será de algum proveito a outrem.


Difícil dar o lugar que não tenho, 

do tempo que já se foi.

FEIJOADA PARA O POVO DE RUA






 

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

INCOMUM

 


Horrível aceitar "amigos em comum".


Sou incomum!


Amizades virtuais revêem 

o sentido da convivência... 

de certa forma desvirtua.


Logaritmo de encontros pré-definidos 


Talvez faça o desserviço 

de romper com tudo isto 

e mudar-me 

para uma região desértica, 

onde possa encontrar-me livre 

para os naturais confrontos amigos.


Pedir amizade 

é muito incomum 

para algo tão natural.

IMANENTE

 


Não se enquadram 

as flores 

com as estruturas.

Como entender 

seus segredos ?


A rua excita,

A janela excita,

A TV excita, 


Absorvem as horas 

em suas demoras.

Como parar o tempo

um tempo?


Detenho-me nas flores 

seus dissonantes aromas, 

escalam escarpas, 

suspendem perguntas.


Divisória inaudita 

retém 

o que contém 

até desabrochar-se.


Silenciosa jornada das flores

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

ENCONTRANDO E PERDENDO



Perdi-me nas certezas

Encontrei-me nas dúvidas. 


Amei sem me perguntar 

de algo,

como estava (?)...

brotou de uma mansidão.


Fui polindo a justiça 

no decorrer da vida, 

certo de que 

a via incompleta.


Não consigo aceitar 

a verdade plenamente, 

por respeito a ela...

sempre traz novidades.


Me pergunto sobre a perfeição, 

como se sustenta?

porque nada existiria.


Posso sonhar...

devo sonhar, 

como viver sem sonhos? 


Tento ajustar 

meus pensamentos 

às árvores, 

aos rios, 

ao céu, 

o mar.


Pensar conforme vejo, 

e tambem inverter, 

para guardar-me 

um pouco de pensar, 

mas ser um no meio.


Caminho um mesclado social, 

meio perdido de mim, 

meio me encontrando nos outros.


Em suma, sigo aberto 

este final de tempo.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

SONHOS VÃOS

 


A solidão me tem 

como companhia, 

espremida

contra o vazio.


Seus sonhos vãos 

seguem defasados 

do tempo, 

talvez perdidos.


Sequer cogitam voos, 

apenas esvoaçam 

passados distantes. 


Seus pássaros pensam 

mundos refeitos, 

a despeito 

de suas altitudes 

intangíveis, 

cessam...


Desfaço-me a pensar 

se ainda volto à realidade, 

ou disfarço uma presenca muda.


Observo....

DOCE ADORMECER

 


Dorme pequena, 

assim também 

dormem suas dores 

tão despertas.


Surpreendem-te 

as marcas do tempo 

em teu corpo...


Fostes gazela solta 

em campos de girassois,  

voltados a ti, 

tua luminosidade.


O vento enamorava-se 

de teus cabelos, 

desejoso de encarnar-se, 

despedida etérea.


Teus passos 

paralisavam ambientes 

ritmos inconscientes.


Fostes meu princípio, 

gerado em ti, 

desconhecido de mim, 

até então. 


Fostes meu tudo, 

quando percorria ermo 

as pegadas do destino, 

circulares.


Hoje somos fusão, 

próximos de nós, 

esperanças realizadas.


A verdade 

encravada na vida 

a faz dormir, pequena, 

junto às dores. 


Desperta!

Enciumam-me teus sonhos, 

banido noturno de ti.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

ANÔNIMO

  


Levo recordações 

entremeadas de amor, 

deixadas ao longo 

da estrada.


Fingem-se de presença, 

deitadas no tempo.


São beijos em suspensão, 

fugas sorrateiras, 

descobertas de verdades 

enterradas nas perseguições.


Tanta vida 

tornou tudo 

morte 

depois


Alimento o presente

com a força construida 

das orquídeas brancas 

não murcham, 

resistem


Resguardo o espaço 

da herança erigida 

na história anônima, 

sem exaltação, 

sem poder...


Conserva uma consumação,

sangue  branco da paz

domingo, 30 de novembro de 2025

DISPERSO

 


Meus versos estão feridos 

não se expandem, 

sangram


Perguntam dos corações vazios

a calmaria dos varais, 

as marés eternas...


Buscam lugares distantes, 

longe da morte,

arrependem-se das palavras...


Querem  dividir espólios,  

aguardam suas partes, 

disputam...


Ardem pelo caminho

trânsito em transe, 

lêem...


Estão aí dispersos 

em simbolos, 

não colam...


Sonham por algo, 

sem saber o quê, 

persistem...

terça-feira, 25 de novembro de 2025

FINAL DE NOITE

 

Como temos

sobrevivido

meu amor...

um mundo
que não nos entende,
nos leva em mar
tempestuoso,
jogando o barco
de um lado ao outro.
Queria a mansidão
dos jardins dispersos
fora dos trajetos,
e só encontro
o tempo comprimido.
Sobrou o fim da noite
para nosso silêncio.
Sobrou a sobra,
quase nada para nós.
Sobraram sonhos perdidos
no desencontro diário.
Ainda assim
sobrevivemos
nas confidências
guardadas
no outro lado
dos montes
onde o Sol
descansa
extenuado
do homem
e da mulher.
Peço
não se perca
este pouco
que ainda resta
no pouco
que somos
do pouco
que temos.
Somos assim,
acamados
noturnos,
assim seguiremos...

domingo, 23 de novembro de 2025

LIMITES

 


Vivo de limites...


Estão por aí, 

em quase todos 

os lugares.


A eles me submeto, 

me adapto,  

confronto... 

a outros rejeito, 

e por fim, 

outros ainda estabeleço.

partes fundantes da vida.


Com os limites 

mantenho uma relação 

de paz e guerra.


De paz...

se andam de acordo 

como vejo e ajo; 

de guerra...

quando me obrigam  

a contragosto, 

guardar-me 

do que digo e faço. 


Grande parte destes limites 

não estão explícitos, 

fazem parte 

do subentendido, 

vigiando no silêncio. 


As palavras batem-se, 

constantemente, 

a contragosto, 

nos muros da convivência, 

diferentes olhares, 

até definirem 

o que deve ser dito, 

e o que deve calar-se.


Talvez o primeiro choro 

tenha passado por fora...

talvez o amor desconheça regras

é porque é...

por isto perseguido 


Se olho atento, 

percebo-me um prisioneiro 

social e individual, 

um catálogo 

com nome e registro.


Ai os horários 

que lembram 

nossos tempos 

todos delimitados.


Agora tenho 

que por um fim, 

um limite, 

e chega!

sábado, 22 de novembro de 2025

ALMA MINHA

 


Desperta-me, minha irmã, 

segure o tempo um pouco mais, 

enquanto pesquisamos 

conchinhas coloridas 

deixadas nas areias úmidas da praia. 


Percorramos este vasto campo 

onde se esvai o caminhar 

entre as margaridas, 

enamoradas da relva homogênea, 

destacam-nas...


Lembra-te? desaparecemos nelas...


Alça-me além 

dos escombros inevitáveis 

nestes teus beijos líquidos, 

pesquisam linguas extintas, 

adiam meu féretro. 


Querida irmã,  alma minha!


Tu és a marca 

formada em meu rosto, 

fotografia em que me revelo 

inteiramente em ti, 

passos de meus tropeços, 

tão constantes

imagem que me distrai, 

despenca no caminho. 


Leva-me junto a ti, 

incapaz de ti, 

carente de ti.


Amada irmã, 

enciuma-me o beijo 

matinal do Sol,  

o banho noturno 

de afagos 

da Lua...

te acompanham 

em minhas ausências, 

velho e pequeno


Lembra-te de como 

percorremos em silêncio 

as grandes distâncias 

dos ocasos, 

tudo se encaixava 

como azulejos azuis, 


 Tudo era possível!


Onde tocávamos 

encontrávamos vida, 

mesmo nas pedras, 

impecáveis 

disformes...


Agora a hora se despede...

mostra-me então a noite, 

sigamos este pouco juntos, 

sonâmbulos do amanhã, 

olhemos o entorno construído, 

como reagimos 

aos clamores que ouvimos, 

ainda ecoam, 

como choramos o mundo...

certos de não errarmos o destino.


Venha! 


Ainda temos história nas mãos...

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

ENJOO INTIMO



Chega de mim!


Entorto-me como gostam...


Chega que me cego, 

nublado do que descarrego 


Chega do novo asfixiado 

nas entonações previstas.


Busco o afago 

das montanhas 

ansiosas de visitas, 

lágrimas que sugam o mar


Que se vá o vil 

que sempre me precede, 

e perca-me no silêncio 

dos seios protegidos .


Fujo de tudo, 

quem sabe descubra 

o ponto onde esqueci 

o nada badalando o tempo.

terça-feira, 18 de novembro de 2025

VAGO...

 

A margem estreita do rio 

retém censuras 

a muitas desventuras


O tempo entretém-se

em se olhar, 

antes de se atingir, 

diante do alto mar.


Desvendam-se fases, 

despedidas de andores, 

devidas medidas 

colocadas a amores.


A distância trás 

apurado olhar, 

sem a ânsia 

do momento, 

reflexão ao analisar. 


Minha nau 

vaga solta, 

vento a popa 

nas velas

sem escolta, 

sequelas...


Abre-se a mistérios, 

descobertas,  

busca por justiça, 

luta a impérios.


No mais, 

de tudo 

se desfaz, 

examina mapas, 

revê rotas, 

refaz

SOMATÓRIA

  


Como pode a vida 

somar história 

de todo um tempo 

no presente?


Emoções concentradas 

umas sobre as outras, 

como o coração suporta?


Batem a porta!

Recusam-se desaparecer, 

fazem parte.


Se deixo, 

sou invadido 

por uma integridade 

desaparecida.


Pergunta-me ainda 

se a sustento, 

se sofro, 

relego...


Quer saber 

quanto de mim 

está aqui, 

agora?


Se despedi-me, 

tornei-me outro, 

sobram derrotas, 

ou caminho 

confiante de mim...


Vou pelo caminho 

semi consciente 

da continuidade, 

embora sendo eu, 

muito me estranho

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

VARAIS

 


Coloco minhas roupas 

para secar no varal,

ao lado da jaboticabeira,

o sabiá alegra-me com o dia.


Aproveito que o Sol 

me invada também, 

secando a sujeira 

que ficou de ontem.


Prendo com grampos 

a rigidez na roupa úmida, 

certo que os ventos 

sacudam a rabugice 

para longe


Estico na roupa a ser presa,

essa lingua tagarela, 

para que possa calar-se, 

deixando os demônios enjaulados


No primeiro varal 

ficam as mãos erguidas 

com roupas 

tiradas dos ombros, 

pesam, 

clamando um despertar 

diante de tantas situações, 

eu tão omisso...


No último 

ficam as peças 

menos usadas , 

secam na sombra, 

demoradamente, 

estão cansadas 

do uso contínuo, 

torcem por novidades.


Dependuro a esperança 

no calor do dia, 

com a certeza 

de recolhê-la à tarde, 

guardá-la para o amanhã 

nem tudo é para hoje,

estarão preparadas.


Meus varais estão 

sempre à espera,

aproveitam a luz, 

o calor, 

os ventos

prendem a ordem 

seguram a vida 

que balança...

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

PARTE DE MIM

 


Ó parte de mim, 

que me deixaste, 

por onde andas?


Trazias as espumas, 

arrebentação constante 

de ondas,

desprezavas 

sua imensa contenção, 

mar indomado...


Tinhas palavras extraídas 

dos regatos cristalinos, 

antes que as águas  

se  ajuntassem caudalosas 

no afã diário.


Mantinhas a pureza 

da verdade, 

caminhavas altiva,, 

intocada presença 

divina de si.


Nada abalava 

seu lânguido percurso, 

pés seguros, 

fronte erguida,


Nada a amedrontava... 

admiravas os portões, 

guardavam segredos,

preferias os campos abertos, 

sua incursões 

eram sempre novas...


Parte de mim, onde andas?


Um dia, se me lembro, 

ou foi ao longo do tempo?

sem mais,  saistes, 

para não mais voltar, 

deixando-me,

de presente, 

a realidade.


Sua leve despedida 

foi percebida 

tardiamente...

retendo vida 

por onde passou, 

disfarçando a ausência.


Esforço-me por encontrá-la 

em meu cotidiano, 

sei que ainda anda 

a vagar por ai, 

dona de si, 

integrada. 


Alerta-me 

das grandes distâncias 

das teorias...

a simplicidade da vida


Deixa-me escritos, 

onde decifro 

seu belo labirinto 

de surpresas,  

desperta-me 

madrugada afora


Parte de mim, 

convida-me a percorrer 

novamente contigo 

os caminhos, 

nem que seja 

em versos 

despertos 

noturnos

sábado, 8 de novembro de 2025

DESAPEGO

  


Não procuro mais desafios, 

visito os jardins, 

possuem vida 

em terra firme, 

diluem as dores 

com flores, 

ensinam .


Evito ser encontrado, 

progressivamente me escondo 

nos escombros, 

interior a ser preservado 

das eternas rotinas, 

velórios de atividades.


Anseio pelas sínteses, 

poucas palavras, 

muitas compreensões 

dos caminhos, 

onde vão dar...


Perdoo os fracos, 

sempre em lágrimas, 

por não suportarem, 

como eu, 

os corações 

duros e secos.


Destes, conheço o olhar, 

não merecem consideração.


Descubro, 

no fundo do poço, 

a verdade, 

o sentido de tudo, 

desapego..

ERROS PERMANENTES

 


Fui poeta 

antes da gramática, 

versos inspirados 

ainda que errados.


Meu caminho 

seguiu a rua e a escola

o coração e a verdade, 

poucos simbolismos, 

mais realidades.


Depois, 

corrigi 

o incorrigível 

desconhecimento 

da lingua.


Vergonha

passei e passo, 

dos perfeitos de sempre, 

faço que me desfaço, 

para ser outro constantemente.


Sigo livre e solto, 

em pensamentos envolventes...

como parentes, 

veem-se constantemente.

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

CORRENTEZA

 


Meu caminho 

não tem chegada, 

é uma continuidade 

de desafios.


Luta por sobrevivência...


Surpreendem-me 

as marés constantes, 

insurgentes,

desestabilizam...

terreno movediço  

da realidade 

sufocante.


Os dias percorrem 

travesseiros noturnos, 

vigílias inseguras 

do amanhã. 


A novela distrai,

o futebol distrai, 

o prazer distrai...


O silêncio do futuro 

são os ruídos 

permanentes 

do presente.


Nada muito explícito, 

sorrateiro, 

acompanha o féretro 

do destino.


Impossível acomodar-se!


O Sol esconde, 

com seu brilho 

a implacável vileza 

da realidade.


Vou assim, 

sonâmbulo, 

meio em mim, 

meio fora de mim, 

refletindo onde posso 

por os pés. 


Um mal sem rosto, 

imposto; 

uma fome guardada, 

escondida; 

um amor adiado, 

para quando?


Deixo um pensar 

inseguro, 

visitado pelo medo, 

enquanto o dia não vem...

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

LIXEIRA VIRTUAL

 


Aprendi a apagar o passado, 

jogando tudo no lixo, 

com um simples toque 

no celular. 


Observei como é fácil, 

eu que gosto de guardar...


De fato, 

guardar um passado 

morto, 

dá imenso trabalho, 

posterior,

em se livrar.


Ameaçou-me 

a caixa de recados,

repleta, 

deixar tudo 

o que faço suspenso, 

parado. 


Como sobreviver desantenado, 

eu maior que a tecnologia?


A contragosto, 

adaptei meus juízos 

às regras 

da sobrevivência 

mídiática,

vez por outra 

eliminando tempos, 

pessoas, 

elementos...


Estranha ética 

midiâtica, 

voraz e prática, 

indiferente, 

sem sentimento.


Algum dia 

estarei também 

lotando a caixa 

de recados de alguém, 

que me excluirá 

pela lixeira,  

e voltarei, 

desta vez eu,

a ser ninguém.

INERENTE

 


Antes de qualquer profissão, 

fui poeta...


Veio até no amor,  

acomodou-se

de alguma forma, 

seja como for...


Antes de me ver 

como gente

ja escrevia, 

extraia os versos 

da mente, 

a compreensão 

de quem seria.


Antes de mim, 

fui poesia...

aventurei palavras, 

vivia...

RECOLHENDO NO TEMPO



Sempre recolho 

algumas lágrimas 

do passado, 

pingam religiosamente...


Ultrapassam meus limites, 

a forma límpida 

com que busco 

regular as situações...

escorrem prisioneiras.


Outras ressecam, 

endurecem a cerviz 

como se fosse estátua, 

tornam a razão um deus.


Também recolho 

sorrisos fraternos, 

antídotos eficazes 

para toda sorte 

de problemas.


Deixam uma prevenção no agora, 

diante das contínuas surpresas.


Ai, se não houvessem 

as lágrimas 

os sorrisos, 

do que viveria?

VIRTUAL



O mundo digital  

me aproxima distante.


Distante aproximação, 

próxima e distante...


Digito só, 

a um digitado só, 

meço palavras gráficas 

coração na tela


Nunca me aproximarei 

verdadeiramente, 

nunca me distanciarei 

totalmente.


Viverei sempre por tocar 

apenas um teclado 

perdido em fotografias...

PARCIAL

 


Espere um pouco...

vamos ver se tudo 

se esclarece melhor.


Ninguém sabe antes... 

depois soma-se, 

tiram-se lições.


Só o amor é imprevisto, 

não escolhe hora, 

lugar...

imediato.


Então, a construção  

da vida 

combina 

observação contínua, 

com ímpetos, 

monções e vazantes .


A voz adapta-se, 

o coração navega, 

o pensamento abre velas...


Enquanto vivo 

carrego explicações 

incompletas, 

revelam uma 

humilde parcialidade.


Aceito resignado 

este caminho 

onde fui colocado.


Reconheço 

uma permanente 

surpresa 

a remodelar 

a personalidade.


Sou como muitos...

pé aqui, 

pé acolá

terça-feira, 4 de novembro de 2025

DESCOMPASSO

 


Às vezes vejo o dia ir, 

outras vezes não, 

ele teima em ficar


Muitas vezes produzo 

antes do dia acabar...

fico patinando 

o restante do tempo; 

em outras ocasiões 

não rendo nada, 

e o dia parece 

nunca terminar, 

lamento


Meu relógio 

não se acerta, 

acelera, 

atrasa,

aperta, 

vai e não vai.


Tenho um acordo 

com o tempo, 

ele passa 

desatento, 

ele fica, 

mulambento. 


Tenho o desejo de ir, 

e a preguiça de ficar, 

esforçar-me, 

sorrir, 

ou largar tudo, 

relaxar


Sei que nunca 

me acerto, 

aceito o defeito, 

ponho a cabeça 

no leito, 

e desperto tarde, 

insatisfeito.

sábado, 1 de novembro de 2025

ACONTECIMENTOS FORTUITOS.



Sou um acontecimento 

perdido na multidão. 


Tudo posso, 

mas acabo disperso  

em meio ao povo.


Descubro as verdades 

escondidas entre notícias, 

mas ficam restritas 

em comentários 

junto aos amigos. 


Passeio pelas praças, 

e quem sabe 

o quanto usufruo 

do aroma das flores, 

tão simples e perfeitas...

sabem do olfato 

em minhas narinas?


Sento diante do oratório, 

em viajem desconhecida,  

atrapalhada por ruídos 

de toda ordem...

quem sabe das graças 

que alcancei?


Abro livros,  

mergulho 

no desconhecido...

ignoram.


O café pela manhã 

na padaria, 

ocorreria 

acontecimento maior?


Aconteço 

em cada canto 

por onde passo, 

em particular encanto, 

e tudo me parece 

sempre um começo.

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

INCONSTANTE

 


Certos corações 

só com picareta...

o meu, 

certamente, 

um destes, 

duro, 

inodoro, 

indiferente.


Precisa lapidação 

constante, 

oração sobre oração...


Bate por fora, 

por tudo 

o que é vil...

se não seguro, 

perco o sentido 

da vida; 

imaturo,

vai-se embora...


Ao lavar-me no Espírito, 

me dou conta 

da infinita distância 

entre Deus e eu, 

erva daninha 

a gemer em grito, 

sua inconstância.


Descubro diariamente   

este coracão 

que ao mal 

se aninha, 

fora de si, 

em agito...


Despeço-o 

ao desnudá-lo;

recoloco-o 

em seu devido lugar, 

batendo novamente, 

constante, 

desejoso de amar

SONHOS PERIGOSOS

 


Os sonhos proscritos...

destes, guardo 

profundo silêncio.


Tornam o olhar límpido, 

transformação completa 

encantos esquecidos, 

escritos


Ocultos, 

trazem amores, 

insepultos,

escondidos, 

distraídos 

da idade, 

do tempo.


Tudo era perfeito, 

e não via...

agora refeito, 

vejo o que perdia.


Recolho sonhos 

na memória 

como relíquias 

sagradas, 

esculpidas 

num passado remoto. 


Proibidos de vir à tona, 

descobrem 

das montanhas 

seus femininos 

contornos, 

expõem segredos, 

adornos

sob as torres construídos.


Devem permanecer 

dormentes, 

trancados, 

em eterno alvorecer...


Os tijolos de tua escola, 

minha Ouro Preto, 

o escalar 

de tuas ladeiras,

guardo, 

neste livro,

a imagem primeira, 

derradeira.


Deverias existir 

mais que sonhos...

realizados inteiros, 

perigosamente 

consumidos...

FERIDAS

 


Vou deixando por fazer, 

nesta longa estrada, 

eu tão falho.


Vão ficando feridas, 

abertas, 

esquecidas,  

neste caminhar 

de atalhos.


Vou como quem 

não pensa, 

não sabe, 

incensa..


Se chego 

em algum lugar, 

surpreendo-me 

com o nada, 

vulgar.


Vou cuidando 

de feridas 

no tempo, 

e haja unguento...

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

VIDA PEQUENA

 


Quem não sorri 

por sorrir, 

sustenta rancor 

por razão 

seja qual for,

apequena a vida 

mantendo-a contida.


Vencer-se das dores , 

dar espaço às  flores, 

destituir o olhar  

das márgens, 

entregar-se 

ao mar profundo, 

é a razão de ser 

neste mundo.


Oprimir-se 

além do oprimido, 

Faz o opressor rir-se 

do gemido 

escondido


Há um passo 

além, 

pessoal, 

transcendental, 

aguardando 

alguém, 

esquecido 

no aquém.


Há sempre novo, 

esperando eclodir, 

qual um ovo, 

nascer de si, 

morto, 

mártir...


O Sol queima, 

a Lua embriaga, 

o vento afaga 

a tez desnuda...

descubra 

o calor, 

o amor, 

alento.


A vida impõe-se 

a todo momento.

domingo, 26 de outubro de 2025

INTRUSO

 


Tem dia em que o vazio vem visitar-me.


Traz consigo uma tesoura  

e passa a recortar a palavras. 


Chega mesmo a separar as letras, 

pondo tudo de cabeça pra baixo.


Infunde um medo profundo 

de que o nada exista 

e apague o que foi construído.


Esperou que os amigos 

se distanciassem, 

aproveitou-se da solidão 

e veio,

observando para ver se desabo.


Esqueceu-se dos ensinamentos 

que aprendi com minha mãe, 

as descobertas inconfessáveis 

que experimentei.


Esqueceu-se que me reconstruo...


Por isso estou aqui.


Por isso ainda escrevo

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

PEDRINHAS

 


Sou um produtor 

de pensamentos, 

vem 

não sei de onde, 

vão 

sabe-se lá para onde...


Incógnita em mim, 

interpela, 

aprofunda, 

cansa 

da falta de respostas,

depois se acostuma 

com o desconhecido,  

tratando-o naturalmente.


Lembro-me das pedrinhas 

jogadas nos lagos, 

a diversão de vê-las 

saltarem na água...

como me divertiam 

as pedras e a água. 


Sinto-me, às vezes 

como estas pedrinhas, 

lançado forte

resvalo em algo 

aparentemente sólido 

que não é,

vida curta 

para tantas perguntas 

jogadas ao tempo.


Hoje, 

submerso

percorro as noites 

numa pesca 

fragmentada de mim...

NOITE ALTA

 


Preciso de amigos, 

antes que amanheça.


Tenho algumas pedras 

nos apetrechos da viagem, 

pesam...


Estão fora do tempo, 

não saem, 

não se limpam, 

compõem a roupagem 

com que me cubro 

diariamente.


Só eles podem me ouvir, 

confidenciamos tanto...


Aceito o silêncio e a solidão 

como algo inevitável 

para quem medita...

não é possível trazê-los 

em meio à noite.


Espero o amanhecer 

até tudo calar-se, afinal.


Aguardo...

terça-feira, 21 de outubro de 2025

AMÁLGAMA

 


Deixei os dedos 

desenharem teu corpo, 

descobriam o sono eterno 

das grandes distâncias 

a serem percorridas.


Aos poucos 

tornou-se um canto oculto, 

vindo por sobre os montes, 

sem origem.


Seu fremir 

semi enlutado 

venceu as horas, 

lânguido despertar 

das serpentes.


Tremeu a Terra, 

inebriou-se o ar 

de um perfume novo.


Deste encontro 

de peles e beijos 

nos desaparecemos 

do mundo.


Encontrou-nos o dia, 

estranhando a força 

com que  deslizamos 

os espaços disponíveis...

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

PAPELÃO SOCIAL

 


Sinto frio, 

recolho-me num papelão 

embaixo de uma marquise, 

protegendo-me...


Chovem distâncias...


Tornei-me

objeto de rejeição 

de todos.


Por que não morre? 


Por que está aqui?


É um inútil!


Acusam-me de manchar 

a ordem das coisas, 

estragar a beleza 

dos ambientes, 

atrapalhar o comércio...


Sou expulso 

dos lugares, 

périplo repetido 

de sobrevivência...

da praça para a rodoviária, 

da rodoviária para a praia, 

da praia para um beco, 

do beco a praça, 

rodízio de estacões,

viagem permanente 

de sobrevivência, 

driblando 

o esquecimento 

dos poderosos.


Retirei de mim 

toda sorte de orgulho 

para manter-me vivo, 

já quase 

não me visto, 

não me banho, 

faço a barba.


Os que passam 

por mim,

apertam o passo, 

se afastam..


Tornei-me mais 

que oprimido...

um repugnante, 

sequer me tocam.


Tenho feridas expostas, 

ninguém faz um curativo...


Estão todos 

muito bem, 

escondidos 

em suas estruturas, 

se bastam,

castelos de areia, 

iguais aos das criancas 

nas praias, 

ao final 

são desfeitos

nada resta

de tudo 

construído. 


Aprendi a rezar 

melhor que o padre, 

mais alto que o pastor, 

sinto-me ouvido, 

nada material 

ou físico, 

nada visível, 

mas real


Sigo deitado 

embaixo 

de uma marquise, 

nos bancos 

das pracas, 

praias

onde me esquecerem...

chuva permanente 

de exclusão, 

contraponto da ordem...


Quem me vê 

não dá nada, 

não valho 

um tostão...

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

ALTAS HORAS

 


Não resisti à noite, 

rendi-lhe a energias 

tardiamente,

por hora do cantar 

do galo.


Enquanto isso, 

cevava as palavras 

que  passeavam livres, 

impossível retê-las.


Desatento, 

retive apenas

 as joias primeiras, 

fiz delas 

a sequência lógica 

dos versos.


São o refúgio 

da realidade, 

abrandadas 

pelos enlaces 

das palavras.


Deixam 

pequenas 

descobertas, 

despertam 

da letargia.


Satisfaço-me 

com o pouco, 

rouco declamar.

FÉRETRO VERBAL

 


Meus poemas 

não adormecem, 

sonambulam,  

insatisfeitos 

e incompletos.


Nada os encerra, 

enredos parciais, 

voláteis, 

de um absoluto infinito.


Sofrem, 

sem fingimento,

todas as dores 

do mundo.


Angustiam-se 

com a solidão, 

a indiferença humana


Suas letras 

choram as partidas 

olhando de frente, 

não suportam falsidades.


Suas lágrimas 

borram os versos, 

mal representam 

as dores.


Escondem-se, 

vulneráveis,  

do tempo inexorável 

que a tudo constrói, 

desconstroi.


Ficam ali, 

nos cantos da vida, 

até que alguém 

ouça o coração, 

raro coração.


Retrato escrito 

do féretro verbal, 

enterro do verso

tumba do livro

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

REINVENTAR



Tempo de se reinventar, 
descobrir-se limitado 
para sua época. 

Deixar de ser o mesmo, 
para tornar-se outro 
do que é e faz.

Obrigado a redescobrir-se 
de sua nudez, 
repensar meios, 
otimizar trajetos.

Porque existe 
um mundo de cobranças, 
que ultrapassa 
constantemente 
nossas capacidades, 
difícil acompanhar, 
estar à frente...
é para poucos.

Há um evoluir diário 
que vai descartando 
relações,
processos, 
produtos, 
carreiras, 
até hábitos,  
numa voracidade ímpar.

Quando vemos, 
é como 
se convivêssemos
em mundos paralelos.

Assim o percurso 
torna-se uma corrida, 
a vida uma Olimpíada, 
nosso tudo 
um nada

Em outras dimensões 
também, 
de alguma forma, 
precisamos redescobrir-nos.

Guardamos capacidades 
para todas as possibilidades, 
desafiamo-nos 
diante da vida e do mundo, 
sempre arrancando cascas...
impedem renasceres. 

Somos uma mutação 
humana
desconhecida, 
que evolui 
sem saber como 
sem saber para onde...

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

MEDITANDO

 


A vida é uma permanente surpresa, 

traz alegrias e dores juntas, 

desafia nossa paz 

enquanto caminhamos.


A montanha não termina seu escalar, 

íngreme desafio de todos os dias. 


O Sol cobra a obrigação de vencer. 


Às vezes nos expomos, 

outras vezes nos escondemos. 


Nunca satisfeitos buscamos transcender.


Muitos nada cogitam, 

prendem-se em varais, 

ganham vida à mercê 

dos ventos quentes 

que sopram vindos do mar..


O tempo é incerto, 

não sabemos quando se acaba, 

para de contar

os anos, 

os dias, 

num eterno esperar.


Observo 

em meditação solitária 

este universo humano, 

e guardo o amor 

como uma ponte

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

PORVIR

 


As novas realidades 

absorvem e somam, 

dividem o tempo, 

os trajetos... 

são espaços estendidos 

de nós próprios,  

enquanto agimos.


Tornam-nos repartidos e expatriados 

de vários projetos.


Abraçamos inalcansáveis sonhos 

de um mundo novo, 

a construir.


Permanentemente ilimitados, 

habitamos umbrais legados 

de gerações e civilizações.


Fazemos tudo novo, 

desconhecidos da História, 

descontentes da herança. 


Lançamos bandeiras novas 

diante da milenar dominação 

e encerramos a vida 

sem ver o porvir.

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Trazido pelo amigo Ivan Vilela


 



 
Às vezes me vejo 

neste barco inclinado 

na areia à beira mar.

Alega os anos...

não sabe estar 

longe do oceano. 


Deixo a proa 

preparada para as ondas 

Chacoalho antes que venham...





DISTANTE

 


Tão grande a distância,

vácuo profundo...

olhos semi abertos 

semi cerrados, 

encerrados,

escuro profundo, 

alvorecer diurno.


Obra sempre incompleta 

de algo ou alguém, 

não se define 

não se percebe 

não alcança.


A vida se descobre 

nos limites, 

angústia de irrealizacões, 

sonhos permanecem 

se desfazem

Inalcansavel amanhecer

Interminável poente.

LINHA SOLTA

 


Puxo uma linha 

no decorrer do dia.

suspensão do real, 

descobertas fortuitas 

que afloram.


Hiato se faz 

da continuidade ociosa, 

trazendo presentes 

esquecidos no tempo


Sem contratempo 

ponho-me a indagar 

se o transcender em si 

já nao é um ato 

de se salvar.


Porque os olhos procuram 

permanentes saídas 

nas flores 

aromas, 

verdes mares, 

olhares.


Busca que rebusca 

o que não vê  

no que vê, 

cegueira, 

realidade proscrita.


Há uma linha solta em mim, 

em algum poço profundo,  

que me faz pescar...

OPOSTOS

 


O que eu quero não digo, 

busco abrigo


Não sou quem digo, 

sou maldito.


Não falo o que sei

Calo o que pensei.


Tenho o beijo guardado

desejo que almejo. 


O tempo desfaz

a desfaçatez incapaz. 


Vou como quem disfarça.

em meio a farsa.


Meu tino é desatino

chegada de destino.


Caminho de desencontros, 

opostos que se encontram

sábado, 27 de setembro de 2025

MOVIMENTOS

 


Abandonei-me...

deixei o barco 

seguir a corrente. 


Enquanto isso, 

observava quão vão 

eram as iniciativas 

de correção do rumo..


Porque vinham ondas 

de todos os lados, 

sacudiam todos os projetos...

eram como pesos 

jogados ao mar.


Apoie-me no que podia 

para não afundar.


Quando os ventos cessaram, 

e o tempo acalmou-se, 

pude sentir 

a brisa da esperança... 

era a chance 

de pegar novamente a vela, 

e conduzir-me.


Às vezes 

deixo levar-me 

durante as tempestades... 

às vezes, 

sigo como quero.


Não me apequeno, 

não me orgulho 

de nada, 

compreendo 

as grandes monções, 

e os longos desertos, 

e sigo como posso, 

conhecedor...

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

CATARSE

 


Alguém me interpela 

pela noite...


Ouço o ruído 

das gotas de chuva...

formam ritmos  

no telhado 

esquecido.


Ouço o badalar do tempo 

fechando as horas, 

contagem regressiva 

de um novo dia.


Ouço o coração...

seus batimentos 

agora 

acalmam-se 

da realidade diária, 

exigência de sobrevivência.


Um silvo agudo ouço , 

constante, 

nos ouvidos...

só perceptível 

em meio a noite, 

assemelha-se a um chamado 

permanente


Ouço minhas indagações 

de vida, 

não encontram tempo 

em outros momentos,

justificam-se, 

sugerem novos caminhos.


Ouço também a voz 

do coração , 

busca o pensamento , 

não o encontra, 

descanso dos sorrisos fartos , 

lágrimas guardadas...


Só assim vou 

percebendo 

meus compartimentos, 

alguns bem visíveis , 

outros mais ocultos, 

até os guardados 

a sete chaves...

ocuparam lugar, 

com o tempo, 

em minhas expressões,  

quem me conhece,  

identifica-os. 


Minhas portas 

abrem-se às noites,

e sou visitado...

desejaria, 

às  vezes, 

que estivessem fechadas...

nunca sei quem vem


Aguardo sempre 

a vinda do amor oculto,

não tem hora para chegar...

passo o tempo no escuro 

esperando sua vinda.

 

Quando vem, 

traz consigo a timidez,  

raramente fala comigo...

sinto-lhe o toque, 

ao perceber que chegou...


Brinca de esconde esconde, 

faz o jogo do advinha, 

na maior parte das visitas

derrama sua imensa afeição 

gratuita, 

só para que note 

que não sou apenas 

carne e mundo.


Deixou-se um livro 

onde esconde 

seus segredos, 

até hoje os decifro.


A chuva já vai cedendo

e o galo desperta 

o relógio da natureza.


Hoje deixou-me a grafia...

quem sabe amanhã?

quarta-feira, 24 de setembro de 2025

BUSCA OCULTA

 


Minha consciência distrai-se 

em seus contornos. 


Acrescentei aos pensamentos o amor.


Semelhante a embriaguez, 

passei a apurar a visão 

de mim, 

do mundo.


Meus olhos 

multiplicaram 

olhares, 

os detalhes 

mal escapam.


Foi como uma luz 

que desceu, 

descoberta divina 

da humanidade.


Até a revolta 

ressoa 

diferente, 

indignada, 

com doses de serenidade.


Ainda busco a consciência, 

ainda me distraio.


Perseguidor de mim, 

escapo facilmente, 

e me vejo sempre 

meio distante.

terça-feira, 23 de setembro de 2025

TODO DIA...

 


Todo dia é um desafio.


Levantar para conquistar.

Deixar sonhos, 

cair na real.

Sair do silêncio. 

encontrar ruídos.


Do monólogo 

para o diálogo, 

da oração, 

para a ação, 

do amar,

para o lutar.


Toda manhã é 

um programado 

inesperado.


Esquecer beijos, 

guardar distâncias, 

deixar cobertas, 

desafiar o tempo, 

sair do jejum, 

alimentar-se.


Todo dia  é uma luta 

das derrotas 

do passado, 

para as conquistas diárias, 

do corpo hibernado 

para o suor molhado.


Todo dia somos 

os que continuam acreditando, 

apesar de tudo, 

seguindo uma força interior 

que nos impele a viver.


Até morrer seguirei 

este ritual de vida, 

distinguindo Sol e Lua, 

acompanhando as horas 

que não param...

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

PASSO A PASSO

 


Passo a passo é como faço.


Aprendi a respeitar o caminho, 

ele é longo, 

exige doação diária.


Sair, 

confraternizar-se

com as pessoas 

nas ruas, 

conhecer, 

participar 

de suas realidades 


Há muito por se descobrir e aprender. 


Muito por se doar. 


Sempre será insuficiente. 


Sempre estaremos por fazer. 


Não se pula etapas, acumula-se


É assim a vida...

passo a passo.

terça-feira, 16 de setembro de 2025

SOU MEIO ASSIM...

 


Às vezes eu sou 

meio como o cachorro, 

muito fiel, 

fácil perdão. 


Outras vezes sou 

como o gato, 

tranquilo, 

observador, 

independente. 


Como o sabiá 

gorjeando 

aos quatro cantos 

indecifráveis 

linguagens... 


O beija flor, 

drone natural

retirando o néctar 

para o amor...


O urubu, 

voando alto 

ao vento quente, 

prazeiroso do mórbido.


Sou o ornitorrinco, 

misturo gêneros, 

naturalmente, 

sem discriminação 


Ainda sou 

como as árvores, 

firmado em boa base, 

copa balançando ao vento.


Sou grama, 

amacio passos...

flores, 

exalo perfumes, 

odores, 

desperto olhares. 


Sou nuvem, 

vejo de cima...

não notam, 

despercebidos. 


Chuva, 

incomodo 

fora de hora,

desalojo a ordem...


Sol escaldante, 

queimo resistências 

testo limites 

físicos, 

psicológicos...


Terra, 

quantas civilizações 

fizeram parte de mim, 

nem sei quantos 

me compõem 


Peixe...

meio luz, 

meio frio, 

observo os convés, 

cascos, 

distraído aos anzóis 


Mosca, 

da hora errada,

do que não é meu.


Formiga, 

a trabalhar fora, 

em casa...


Pedra, 

imutável 

inquebrável, 

concentro eras....


Às vezes sou vírus, 

vivo do alheio, 

transmissão 

indesejável.


Serpente, 

observador, 

paciente,  

inesperado.


Sou um alguém assim, 

meio integrado 

ao mundo 

que me integra, 

nada maior, 

nada menor, 

igual.


Sou o mundo, 

o mundo está 

em mim...

domingo, 14 de setembro de 2025

CORAÇÃO & EPIDERME

 


Por vezes tenho saudades de mim, 

profundidades inalcansáveis, 

de tudo o que poderia ser


Explosões de perguntas, 

das várias fases, 

emergem desordenadas 

no agora noturno,


Passam pelo grande 

crivo da consciência, 

retém corredeiras insanas.

prisão das superficialidades, 

suas soluções débeis, 

poço  das perguntas 

não formuladas, 

onde Deus se esconde


Desperto 

desencontro puro, 

vazio de esquecimentos, 

roubo do tempo.


Quando tudo se acalma, 

uma voz quase extinta, 

chama do nada, 

baixinho

quase nao ouço, 

mal atendo. 


E toda a carga 

da experiência,  

se apresenta logo

como anteparo 

para que ela 

nao se expresse,  


Uma verdade, 

aguarda maturação 


Sobra o coração 

a epiderme, 

para a mística,...

o abandonar, 

deixar acontecer.

PRIMAVERA

 !!!


Vejam!

As portas estão abertas...


Agora é possível sair por elas.


Pareciam fechadas, 

impunham barreiras.


Do lado de fora 

há um Sol radiante...

é primavera.


Os ipês amarelos ocupam 

os lugares nas praças.


Vejam, 

as famílias vão 

aos parques divertirem-se 

com seus filhos,

porque a paz está de volta.


A esperança está deixando 

de ser esperança 

para realizar-se enfim 

em cada um de nós.


Está nas nossas mãos 

o sair e construir 

um mundo novo.


Maior é o  coração 

que pulsa livre...

maiores que sejam 

os problemas.


Então bora construir 

um mundo novo

novo país, 

encontrar novas solucões 

para as novas questões. 


As janelas estão abertas!


E possível ver 

campos esverdeados,

flores... 

sentir  aromas, 

a diversidade de cores.


Convide o seu amor 

pegue pelo braço e saia!


As portas estão abertas!

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

ABRIGO

 


Guardo escondido 

um abrigo, 

deste mundo. 


Colhe dúvidas 

do grande percurso, 

busca razões.


Enquanto não explicam 

distraem-se nas paisagens do tempo. 

buscam lógicas explicações.


Outras perdem-se

em incômodas dúvidas, 

interrogam....


Outras fluem aquáticas, 

pororocas na boca, 

satisfeitas...


Um outro abrigo, 

escondo ainda, 

de mim próprio, 

mais profundo... 


Deste nem elaborei perguntas...

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

7 DE SETEMBRO OU 04 DE JULHO?

 O Brasil está se tornando um país surrealista.

Os fascistas fizeram uma manifestação na data de nossa independência, e estenderam uma bandeira norte americana em que, só a largura, ocupou todo o espaço das duas vias da avenida Paulista.

Somaram mais de 40.000 pessoas, provavelmente financiadas com lanches, ônibus e algum dindin do empresariado entreguista de São Paulo

Tendo a pensar que sejam desejam ser anexados pelos EUA, e estejam clamando a Trump que invada nosso território nacional para tornar nossa terra mais um estado norteamericano. 

Afinal Trump já enviou uma frota com submarinos, fragatas e até jatos  no seu afã sequioso de poder para a América Central provocando e esperando que alguém caia na provocação...

Estamos confiantes de que a maioria do povo brasileiro ainda tenha discernimento de escolher a democracia em lugar do fascismo em 2026.



CLAMOR OCULTO

 


Sou um carente, 

preciso de gente.


Procuro quem me ouça  

que seja um instante, 

porque estou só...

só de humanidade.


Talvez outros sejam mais carentes, 

passem por maiores dificuldades.


O afago falta, 

nos deixa vulneráveis,  

o desprezo mata.


Se alguém ouvir e vier 

poderemos trocar 

nossas dores 

disfarçadas de amores.


Alguém está ouvindo?

sábado, 6 de setembro de 2025

SINTÉTICO

  


Tenho me detido 

por trás das palavras, 

no meio delas...

a ponto de perder o sentido,  

em múltiplas escolhas.


Passo o tempo 

decifrando sentidos ocultos 

nas superfícies das letras 

e suas músicas invisíveis. 


De quando em quando compreendo 

mais o gorjear  dos pássaros 

que a inundação de verbos inodoros 

sobre o dia de sobrevivência. 


Cada vez falo menos, 

carrego junto a alegria.


Admiro os mudos, falam mais


 Busco ser sintético

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Passando o Olhar...

 


Ainda posso encontrá-la no tempo.


Se passou, 

lá vivemos, 

jamais nos esquecemos.


Também posso vê-la a frente;

se chegar, 

poderei experimentar, 

modelo permanente de convívio.


Melhor vê-la agora, 

assim, deitada ao lado,  

em sua sinuosidade silenciosa.


Melhor amá-la além palavras,  

respiro vida.

SER OU NÃO SER

 


Os espaços que busquei, 

não vieram... 

os que não busquei, sim.


Construi um edifício 

que me foi dado, 

outro está nos alicerces.


Procurei por Deus 

e tenho a sensação 

de não ter nem mesmo 

limpado o terreno, 

de repente, ei-lo presente


Os amores que surgiram, 

voos cegos, 

geraram desejos insólitos, 

além convivio, 

terreno onde finquei a paz. 


A morte que evitei, 

porque sob o Sol

não vejo além, 

está sempre presente, 

como fiel escudeira. 


O caminho parece longo, 

inalcansavel, 

cada trecho parece um fim.


Assim vou 

nas reentrâncias da vida, 

encontrando-me 

enquanto me perco,

sendo o que não sou, 

não sendo o que sou

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

LIMITES

 


Vou cultivando meus senões, 

reconhecendo 

a ausência de respostas, 

perguntas a formular.


Interrogações 

caminham distraídas 

na existência.


Cultivo entrópico, 

acrescenta 

permanentes 

ambiguidades, 

corrije rotas.


Não existem sustentações...

terreno alagadiço 

dos limites 

da compreensão.


Melhor o conforto 

das grandes rotinas, 

trajetos conhecidos.


Melhor incorporar as dúvidas aos passos.


Os dias, por si só, 

recobrem de importância 

o nada que afoga, 

amainam.


Fica um pouco 

da inconsciência 

que alenta a vida, 

enquanto transporta 

os limites do tatear

terça-feira, 2 de setembro de 2025

EM TEMPO

 

O passado é uma porta entreaberta.

O futuro, o inííício de uma claridade,  

O presente um palco de representações


Sou memória!

Sou esperança!

Sou ação!


O passado é um valor acumulado 

O futuro é um norte de perseverança, 

O presente é como realizo


Vivo a experiência acumulada!

Vivo a realização dos sonhos!

Vivo como experimento.


Não fecho a porta!

Não me acostumo à escuridão!

Não fujo da vida!

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

INDECIFRÁVEL

  


Teus olhos 

me perguntam 

a toda hora!


Consigo decifrá-los?


Já não enxergam 

mais tanto,

e no entanto, 

ainda me encantam...


Que questões 

escondem?


O que desejam, 

eu distraído das profundezas?


Passo o tempo 

vasculhando aquele olhar...


O que ainda não fiz, 

me perguntam!?


Sei apenas que devo agir, 

e coloco tudo antes 

de nada fazer.


Sigo uma arqueologia 

presente, 

inferindo porquês...


Me desejas um Deus 

que não sou, 

criatura que te adora?


Desejas que te cure, 

restabeleça sonhos 

sonolentos?


Preciso deixar crescer 

minha divindade,

porque assim, 

permaneço 

um servo incapaz...


O quê me perguntas?

domingo, 31 de agosto de 2025

Permita-me

 


Permita-me apagar, 

o texto fora do contexto.


Permita-me esquecer, 

Alzheimer literário. 


Permita-me sair, 

o segredo guardado 

ainda reverbera no tempo.


Permita-me não escrever, 

que se preserve a mente 

tão somente.


Permita-me desculpar-me 

pela ausência, 

sem a sua anuência. 


Permita-me por um fim 

por hora, 

porque demora esquecer...

sábado, 30 de agosto de 2025

MEU ULTIMO AMOR

MEU ULTIMO AMOR 

Meu último amor,
etapa final 
de todos amores, 
compreendeu 
minhas grandes dissonâncias, 
manteve-me no galardão 

Meu grande amor 
compreendeu minhas 
enormes fraquezas 
e ainda assim apoiou.

Sou aquele perdido 
em amores,  
pensou amar 
tudo e todas.

Reles amante 
perdido em amores

Meu grande amor, 
não leia estes versos, 
para não perder 
também a ti, 
eu tantas vezes 
sem prumo
sem rumo...

Grande amor 
vejo em ti 
todos os amores 
que não tive, 
guarda-me 
em teus seios...

Pereço de amor...

O GRANDE RIO...

 


Observando e refletindo,

às vezes falando, 

outras escrevendo...


Meu tempo vai 

silenciando os acessórios, 

agrupado em poucas palavras,  

economia de sentidos, 

concentração de razões. 


Também perpassa 

um auto reconhecimento 

visitas transcendentes, 

linguagem entranhada 

não verbal, 

deixa interrogações 


Tudo flui 

para um grande rio, 

sem margens, 

onde residem 

respostas 

aguardando 

serem interpeladas. 


Perco-me 

neste manancial, 

emerjo 

das descobertas, 

sobrevivente...

ADEUS A LUIS FERNANDO VERÍSSIMO

 Vamos ficar mais uma vez órfãos. Nossos autores são como deuses,  nos deixam sentindo abandonados.

Assim com a partida de Luiz Fernando Veríssimo, assim foi com Drummond...

Sofremos as ausências como se fossem membros da família. 

Resta-nos engolir as lágrimas e seguir em frente

O PODER E AS MÃOS

 


Minhas mãos tem poder...

quando se unem 

a outras mãos, 

tudo podem.


O mundo sofre 

e espera esta união.


Alguns vivem 

de deixar os outros 

sofrendo sozinhos 

em seus quartos, 

sem esperança 

em saídas 

para a vida.


Fabricam sofrimentos...


Ah...

se a maioria soubesse

do grande poder que tem, 

quando estão juntos...


Desperte! 

Saia da dor!


É hora de cantar, 

dançar,  

festejar...  

assim deve ser a vida.


Viver é simples, 

a verdade é límpida, 

amar é tudo.


Caminhemos Juntos!

terça-feira, 26 de agosto de 2025

O jardim e o muro

 

Construi muros... 

observei-os 

ora de dentro, 

ora de fora.


Como eram meus, 

considerei-me  

ora prisioneiro 

ora liberto.


Os que constroem prisões, 

as sepultam primeiro em nós, 

prisioneiros de nós mesmos.


Formei um jardim 

do lado de cá do muro, 

cobri as paredes com trepadeiras...

preservei o coração e os olhos 

da falta de horizontes.


Sigo uma esperança 

oculta dos poderosos, 

rastelando as folhas secas, 

arrancando ervas,

sonho completo 

sem recortes.

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

AGUARDANDO...

 


Escapaste outra vez...


Sempre que a tenho por perto, 

me escapas, 

borboleta azul celeste 

destas terras áridas.


Esguia, 

adormeces a eternidade 

das minhas ansiedades...

despertas tarde demais, 

quando o Sol resseca desejos.


És a ingenuidade no mundo, 

distração do mal...


Crês nos campos de lírios, 

abertos para o amor...


Toco a flauta baixinho, 

quem sabe ouças, 

inclua o chamar 

nos teus sonhos 

embalados de esquecimento.


Os dias vão contados 

em segmentos 

santos e profanos 

de tuas marés, 

e distante, aguardo 

o despertar ...

PERMEÁVEL

  


Tudo passou por mim, 

busquei ser permeável.

Aprendi a ser diverso e único.


Sedimentei aprendizado conflitante, 

nem sempre encontrando explicações. 


Aos mistérios 

alcei voos impossíveis, 

restrições acres.


Às realidades, 

a consciência das lágrimas, 

levou à perseverança. 


Acostumei-me a aceitar  

enquanto meditava, 

verdade em gestação 


Ao coração deixei 

um lugar  especial, 

linguagem inaudita, 

inferência entre linhas.


Sigo esta mescla em formação

sábado, 23 de agosto de 2025

SÓ VOCÊ

  


Só você 

para arrancar 

minha solidão.


Só você 

para me deixar 

cultivar esta solidão. 


Só você 

para compreender 

minha solidão. 


Há um buscar em mim 

que me faz sentir só...


Indefinida mistura 

de gente por existir, 

ações por fazer.


Nem as músicas, 

nem versos, 

nem sair por aí 

sem lugar definido,

nem nada...


Só você é capaz, 

sem saber, 

de afagar 

esta angústia 

solitária...


Você!!


Mais ninguém...

TODO DIA

 


Todo dia 

um despertar...

meditar, 

lembrar-se da noite, 

dos sonhos, 

interpretar...


Todo dia 

agradecer a Deus 

por viver, 

buscar ser melhor.


Todo dia 

um levantar,

perceber ao redor...


Todo dia 

uma roupa, 

um café,

acreditar,

existem saidas...


Todo dia 

caminhar, 

informar-se 

de tudo, 

analisar, ,

considerar 

as pequenas 

e as grandes lutas.


Todo dia 

fazer parte 

da trama, 

das ações, 

transformar


Todo dia 

beijar, 

alegrar-se,

amar muito, 

desprezar o mal.


Todo dia 

também 

entristecer-se 

revoltar-se, 

ser justo.


Todo dia 

sair sem destino, 

descobrir 

as realidades 

tão amplas, 

sua distância 

a elas, 

conscientizar-se...


Todo dia 

trabalhar, 

suar, 

manter a vida, 

sua e dos seus,

sobreviver.


Todo dia 

solidarizar-se 

com quem 

não tem 

como sobreviver...


Todo dia 

defender o coletivo, 

um mundo melhor, 

sem guerras, 

democrático. 


Todo dia 

descobrir-se 

em meio 

às diferenças, 

integrar-se.


Todo dia 

conversar, 

medindo 

o que falar, 

a quantidade 

de palavras, 

o momento...


Todo dia 

um amigo, 

confidente, 

para ouvir, 

nem tudo 

é publico


Todo dia 

arejar, 

deixar tudo 

de lado, 

contemplar

a paisagem,

quem sabe voar...


Todo dia 

encontrar 

novidades, 

romper barreiras...


Todo dia 

olhar 

as rosas,

os espinhos, 

considerar...


Todo dia 

reunir forças 

no seu interior, 

ter esperancas

continuar...


Todo dia 

guardar-se 

ao final, 

satisfeito.


Todo dia 

descansar...

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

MATURACAO

 


Ai, os dias do meu tempo 

passam indiferentes, 

como se não existissem.


Alegrias costumeiras, 

dores particulares, 

ocultas...


Idealizam a eternidade 

a uma longa rotina...


Não fossem as manhãs, 

como suportaria 

o mesmo de sempre?


Uma sensação falsa 

de dever cumprido, 

justifica o repetir-se diário. 


A boca fechada, 

os olhos abertos... 

coabitar exige palavras, 

aguardam maturação.


Os pensamentos 

arrefecem,

padecem...


Até o dia 

em que a História 

encontra-se com a verdade 

e explode, 

forte eclosão,  

consequência 

da longa espera...

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

MARÉS

  


Não percebo mudanças 

um dia após outro. 


A consciência ignora 

seu progresso inconsciente.


Me vejo 

muitas vezes estático,

repetitivo.


As noites lançam 

estas luzes ocultas 

dos escuros dias.


Talvez alguns anos 

mostrem diferenças...


Seguimos no lusco-fusco, 

meio às apalpadelas 

de quem somos, 

onde estamos, 

o que queremos, 

para onde vamos...


Do passado distante 

até me esqueço, 

e surpreendo-me 

quando citam algo que fiz. 


Consinto assim 

fingido de mim.


Meu ser passeia no tempo 

como as marés...

vai e volta, 

vai e volta...

DESMEDIDOS

 


Meu amor, 

as confidências 

que trocamos 

nas margens diárias, 

perdoam os oceanos 

de suas atrações lunares.


Somos da substância 

dos faunos e das ninfas,

entremeados de sabedoria. 


Sabemos nos perder, 

sabemos também 

nos encontrar.


Nossa medida é desmedida

SEM ENREDO

 


Estou sem enredo, 

vou como vou, 

onde o vento assoprar.

Procuro às noites, 

comprar alguma passagem 

para lugares inusitados, 

antes que o Sol 

aponte no horizonte.


Minha caneta pensa antes de mim.


Permite apenas 

que reflita 

meu desconhecimento, 

meu mistério particular.

PULSAÇÕES

  


Não vivo só de versos, 

sou diverso.

Não vivo só de encanto, 

vou ao campo.

Não vivo de só de sonho, 

componho.

 

Meus pedaços 

são pulsações 

que chegam a ações.


Do coração aos corações, 

de mãos às mãos.


A palavra luta para ter vida, 

toca interiores, 

convida.


Palavras suaves e duras, 

arrancam carrancas 

das molduras, 

abrem expressões francas.


Descansa seu tocar singelo, 

elo do sentir e agir.

sábado, 16 de agosto de 2025

DORMÊNCIA

  


Tua dormência 

acende muitas luzes, 

caminhos trilhados, 

fugidios.


Tua dormência 

é uma catedral 

aguardando  

badaladas de sinos. 


Observo a noite escura 

como um grande 

exercício estoico, 

acalmando abrasamentos, 

memórias mortas 

revividas.


Não sabes a dimensão 

de minhas batalhas 

enquanto não rompo

os portões deste castelo?


Sequer imaginas 

as danças ocultas 

que despertas. 


Teu lânguido deitar 

mais desperta 

que adormece.

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

IMOLAR-SE

 


Minhas lágrimas estão sempre enxutas, 

meus soluços são silenciosos.


É necessária grande atenção, 

de antemão, 

para perceber este córrego 

oculto pelo tempo.


Comprender a dor milenar, 

genética, 

da humanidade. 


Continua a ser reproduzida 

em sua imbecilidade. 


É necessária a força da insuficiência, 

como consciência da desproporcionalidade.


Correr contra a vontade do tempo, 

imolar o amor

SUPERFICIALIDADE

 .


Lembre-se dos ventos, 

das tempestades, 

as calmarias.


Lembre-se da solidão, 

das grandes festas vazias.


Lembre-se da proximidade do chão, 

e das inalcansáveis alturas.


Lembre-se que amanhã é outro dia, 

e tudo também se esvazia...


Guarde-se esquecido, 

na sinceridade de si mesmo.


Exponha teu neutro ser, 

ao universo de opiniões. 


Que o principal conviva com a paz, 

já é suficiente.

NÃO É SÓ ISSO...

 


Não tenho motivos claros para as lágrimas...


Não tenho razões seguras para sorrisos...


Tudo é uma grande somatória, 

enzimas que reagem,

somatizadas em mim.


Não tenho porque dar explicações,  

nem sempre entendo 

o que se passa, 

ao meu redor,

nem tenho que entender...


Preocupo-me em ser útil, 

conseguir ser útil, 

superar a inutilidade, 

mas também ser livre, 

e dispensar obrigações. 


O tempo das divagações 

surpreendem pela demora, 

até ser tarde, 

e vejo 

que fiquei devendo, 

junto com o mundo, 

a grandes e pequenas soluções.


Há mais a completar, 

no pequeno e no vasto...


Assim,

vivo porque vivo,

choro porque choro, 

sorrio porque sorrio, 

divago porque divago...

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

BAGAGEM

Bagagem oculta,

sombra insepulta

de conhecimento e experiência

no caminhar distante...


Tolera, afaga, compreende...

Indigna-se, revolta-se, repreende...


Veste-se de nudez e transgressão

cobre-se de formalismos obrigatórios

diverte-se enquanto vê.


Percorre os labirintos da ordem

que dá em nada,

como um passeio com o cachorro 

no final das tardes.


Encontra as palavras certas

no emaranhado da sobrevivência, 

como oportunidade de paz e conforto...


Depois chora o grande desperdício 

de nós mesmos, 

desatentos e perdidos, 

caça louca de enredos

sem fim. 

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

CHEGADAS E PARTIDAS

 


Não sei despedir-me...

Imagino sempre 

que iremos nos encontrar 

novamente. 


O encontro toma conta de mim... 

se pudesse 

permaneceríamos juntos, 

mas os projetos, 

a sobrevivência 

ocupam muitos espaços 


Com o tempo 

percebo as distâncias, 

as mágoas,  

saudade, 

a ansiedade de ver, ouvir, falar, tocar...


Sentimentos diversos 

vão se produzindo 

no silêncio da vida, 

intervalo de afazeres.


Chega a hora 

das descobertas; 

para alguns 

é como se ainda 

caminhassemos juntos, 

para outros, 

a alegria do encontro, 

outros ainda, 

telefonam, 

marcam dia e local, 

pomos a conversa em dia, 

é insuficiente.


A dor é quando 

escapam alguns, 

fortuitamente

de nossa memória, 

e fica tarde, 

muito tarde

para nos vermos novamente, 

fazem-se de ausentes, 

provamos também o esquecimento.


Assim vejo meu país, 

estamos todos caminhando 

em uma construção 

de várias estradas, 

chegadas e partidas...


Nem sempre nos encontramos...


Temos de aceitar a realidade 

do tempo e das distâncias, 

serenos que continuamos juntos.

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

PORTÕES ABERTOS

 Meus portões estão sempre abertos...

Quem entra?


Distraído de mim, 

não questiono quem vem...

tantas diferenças 

perco referências...


Prefiro a surpresa, 

o novo e o velho, 

o que vier. 


Aprendi a considerar,  

mais que escutar


Então venha, 

seja quem for, 

seja bem vindo, 

caminhemos juntos.


Desperto antes do Sol, 

até o primeiro raio 

atingir-me os olhos, 

aí viro concreto 

entre pássaros,  

e também canto

PRESENÇA

  


Como posso estar ausente?


Sou gente, 

amor e a vida 

estão em mim...


Nada me escapa, 

fugir não consigo, 

volto sempre ao leito, 

rio que segue sonhando 

seus contornos, 

suas quedas, 

vazantes, 

secas. 


Fui fonte, 

riacho, 

recebi visitas marcantes, 

influentes afluentes, 

cresci largos leitos, até amar...


Fui sereno, garoa, chuva, tempestades, aprendi a importância 

dos pingos na terra 

dos raios na escuridão, 

nada me escapou 

de tudo escapei.


Sigo com a história nas mãos 

perto da foz, 

consciente do fim, 

as marcas de ter feito sua parte 

no grande encontro de tudo, 

eu no meio ambiente.


Quem ouve as águas 

levando mansidões 

sabe dos encontros...

domingo, 3 de agosto de 2025

DOCE É VIVER

 


Doce é viver

deixar correr como é...


Doce é se deixar levar.


Doce é amar...


Viver é melodia e letra, 

é percorrer livre os espaços 

sem restringir-se.


Ah...como é bom viver,

ter amigos 

confidenciar

segredos superiores 

do criador, 

superar a dor.


Vou visitar você,  

quem sabe 

sorriremos de tudo, 

choraremos também, 

porque faz parte, 

tem seu aprendizado. 


Durmo a paz de viver 

sabendo que percorri 

tudo como queria, 

livre e solto...

sábado, 2 de agosto de 2025

TARIFAÇO POÉTICO

  


De hoje em diante, todos aqueles que quiserem entrar em meu coração deverão pagar taxas, conforme o que são e fazem

São estas:


100% pela indiferença...

100% pela maldade e ódio 

100% das ausências e omissões 

100% em ceder ao medo.

100% por não pensar no povo citando a pátria

100% por não conhecer nem saber viver a paz.

100% não procurar superar-se no que faz.

100% ao olhar mais para si...

100% aos ricos...encontram sempre formas de isenção 


Não taxarei os esquecidos e desprezados pela maioria

Não taxarei os que vivem apertados nas periferias de todo tipo, aguardando quem os socorra.

Não taxarei as mulheres agredidas e assassinadas...

Não taxarei os que sofrem toda espécie de discriminação.


Deixarei entrar sem taxas 

os pobres 

os desempregados, 

os que choram escondidos  seus sofrimentos.


Tenho um coração zeloso que taxa sempre os poderosos e os maus...


Não dou prazos, nem volto atrás...


Este o TARIFAÇO que estabeleço

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

CONSCIÊNCIA

  


Examino a consciência... 

desafia a superar, 

a rara compreensão...


Ó solitária angústia!  


Ó degraus de mim!


Guarda um silêncio 

observante,

infante 

em véspera do combate 

a segurar a lança.


Hostil, 

incendeia o horizonte 

em dimensões inauditas.


Insaciada 

das mansas margens 

repouso da mundanidade, 

sai às ruas 

a busca 

de quem a entenda.


Tudo pela consciência!


Tudo pelo coração!


Gestada dentro 

busca 

boca a fora, 

quem a decifre 

de si mesma, 

independe dela.

quinta-feira, 31 de julho de 2025

FREIOS E ARREIOS

 

Desculpem o quanto escrevo, 

é que os poetas são tão poucos, 

versos esporádicos 

em mundo hostil,  


Tempos de violência 

em lugar de palavras,  

quem sabe abra grades,

tão fechadas grades...


Recito, 

não respondem...


Não há janelas, 

onde possam debruçar 

o tempo, o amor... 

encontro de si mesmos.


Ausente permanência...


Quem sabe voltem a si, 

das afogadas existências, 

continências inúteis, 

raivosas...


Ah o poeta quer despertar, 

tem apenas a palavra, 

prisioneira 

de mantras,

freios 

e arreios...


Canta 

a toda hora, 

fora de hora, 

nem sempre encanta...


O poeta carrega 

um coração solitário, 

desdobra o vocabulário, 

não arrega...

Vem aí o PÓ DAS ESTRADAS

 Estarei lançando meu setimo livro de poemas no dia 16/08/2025, no espaço Scortecci. 

Estarei lá desde as 16H00 até as 20H00, rua Deputado Lacerda Franco, 98, Pinheiros, São Paulo. 

Conto com a presença dos amigos e viciados em poesia.

Saudações literárias 


F

TRÉGUA

  


Abro uma trégua,  

unilateral,

não é possível 

esperar o outro lado.


Trégua 

desta guerra diária 

das pessoas 

que se olham no espelho, 

não se reconhecem,

passam por cima 

umas das outras.


Trégua 

do amor descartado, 

guardado no passado.


Trégua de mim, de você, de nós...


É preciso retirar os corpos, 

caíram 

em meio aos confrontos, 

estão expostos ainda 

nos campos de batalha, 

clamam por justiça.


Vou interromper a noite 

de seu interpelar eterno, 

conduzí-la 

para o frio abandono...

lá poderá rever-se 

do turbilhão oco.


Quem encontrará espaços 

em meio às imensas tensões?


Porquê as forças estão abaladas, 

chega a hora...

ONDE TE ESCONDES?

  Onde escondi  os versos  que não recitei,  o coração  que não guardei,  quando passavas  por mim? Explodiam  como loucos,  desordenados,  ...