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A dor e surgimento do Homem Novo.

Desejamos uma vida plenamente sã, sem percalços, dificuldades,enfermidades.

Mas, não. Não é assim que acontece.

Estamos em todos os momentos, ainda que planejando as atividades, sujeitos ao inesperado, ao indesejado, à dor.

Ela tem muitas formas de se apresentar (mostrarei ao final), e não pede licença.

Simplesmente vem.

Nos invade em nossa privacidade, nos escancara de nossas racionalidades, ou nos reforça em nossas crenças, quebrando a sequência que estabelecemos para nossos afazeres.

Uma gastrite aguda em duas pessoas pode ter receptividade totalmente diferente para cada uma, dependendo do contexto em que se encontrem, revelando duas sensações de dor.

Me vem à mente Franz Fanon, negro da Martinica, que identificou doenças psicossomáticas (enxaquecas, asias, gastrites, úlceras, etc) e suas respectivas dores, como consequência do processo de colonização.

Partidário da teoria da libertação, escreveu Pele negra, véu branco, e outras obras, mostrando, e mais que isto, como psiquiatra, tratando dos enfermos não só com remédios, mas mostrado a inconsciência do estado de colonizado, para adentrar na consciência de liberto, caminho para o Homem Novo.



"Frantz Fanon (Fort-de-France, Martinica, 20 de julho de 1925 – Washington DC, 6 de dezembro de 1961) foi um psiquiatra, escritor e ensaísta antilhano de ascendência africana. Ele foi, talvez, o maior pensador do século XX relacionado aos temas da descolonização e a psicopatologia da colonização. Suas obras foram inspiradas nos movimentos de libertação anti-coloniais por mais de quatro décadas. Fanon esteve na Argélia, onde trabalhou como médico psiquiatra no hospital do exército francês e neste hospital testemunhou as atrocidades da guerra de libertação da então colônia francesa, comandada principalmente pelo partido socialista argelino da Frente de Libertação Nacional, da qual fez parte."(Wikipedia)

A enfermidade e suas dores estão ligadas às alterações, inibições, imposições, submissões a que o homem e a mulher, em todas as suas dimensões,  estão sujeitos no mundo colonizado. Mesmo nós, em uma democracia jovem, onde achamos que já adquirimos o status de libertos, ledo engano, ressentimos as mazelas de séculos de dominação, e nos sujeitamos como carneirinhos às permormances estabelecidas dentro dos padrões aceitáveis para a sociedade atual.

E sofremos a insconsciência do submeter-se que leva à enfermidade e à dor.

Lembro-me de um curso que realizei no Hospital Emílio Ribas, especializado em doenças de causas virais ou bacteriológicas, ode era constanteente lembrado, que as doenças com estas características significam menos de 10% do total de enfermidades que abatem o homem moderno. Assim, aproximadamente 90% das enfermidades têm fundo psicossomático. E mesmo as de causas citadas acima, só abatem definitivamente o indivíduo quando se reduzem suas defesas psicológicas.

Outra pessoa que me vem à mente é Albert Memmi, com sua obra "O retrato do colonizado, precedido pelo retrato do colonizador", onde, entre outras, nos aponta o fato de repetirmos as caracterísitcas do colonizador, quando do início do nosso processo de libertação. Copiamos porque não descobrimos ainda a forma que é o Homem Novo, que precisa ser construída no decorrer da luta
.
"Albert Memi, nascido em colonial Tunísia , fala árabe como sua língua nativa. Ele foi educado em francês escolas primárias, e seguiu para o high school Carnot em Tunis , a Universidade de Argel , onde estudou filosofia e, finalmente, a Sorbonne , em Paris . Albert Memmi encontrou-se no cruzamento de três culturas, e baseia seu trabalho sobre a dificuldade de encontrar um equilíbrio entre o Oriente eo Ocidente. [ 1 ]
Paralelo com a sua obra literária, perseguiu uma carreira como professor, primeiro como professor na escola secundária de Carnot, em Túnis (1953) e depois na França, onde permaneceu após a independência da Tunísia na Escola Prática de Altos Estudos, na HEC e em da Universidade de Nanterre (1970).
Apesar de ter apoiado o movimento de independência da Tunísia, ele não foi capaz de encontrar um lugar no novo estado muçulmano.Ele publicou seu primeiro romance, considerado bem "La estátua de sal" (traduzido como " A estátua de sal "), em 1953, com prefácio de Albert Camus . Seus romances incluem "Agar" (traduzido como "Strangers"), "Le Scorpion" ("O Escorpião"), e "Le Desert" ("O Deserto").
Seus conhecidos não-ficção trabalho é melhor " O colonizador e o colonizado ", sobre a relação de interdependência entre os dois grupos. Foi publicado em 1957, numa altura em que muitos movimentos de libertação nacional estavam ativos. Jean-Paul Sartre escreveu o prefácio. O trabalho é muitas vezes em conjugação com Frantz Fanon "s" Les damnés de la Terre "(" Os Condenados da Terra ") e" Peau noire, masques blancs "(" Pele negra, máscaras brancas ") e Aimé Césaire 's "Discurso sobre o colonialismo." Em outubro de 2006, Memmi de seguimento a este trabalho, intitulado " A descolonização ea descolonizado ", foi publicado. Neste livro, Memmi sugere que, na sequência da descolonização global, o sofrimento das ex-colónias não pode ser atribuída ao ex-colonizadores, mas os dirigentes corruptos e governos que controlam esses Estados. relacionados Memmi de trabalhos sociológicos incluem "Homem Dominado", "dependência" e "Racismo". Memmi também tem escrito extensivamente sobre o judaísmo , como "Retrato de um judeu", "Libertação dos judeus" e "judeus e árabes." Ele também é conhecido, "Antologia da literatura magrebina" (escrito em colaboração), publicado em 1965 (vol. 1) e 1969 (vol. 2). "(Wikipedia)

Tanto Franz Fanon quanto Albert Memmi fazem parte da literatura libertária da África em seu processo de libertação, onde a necessidade de busca de identidades nacionais os levaram a rediscutir o conceito de Homem Novo, que vem desde São Paulo em suas cartas e passa por toda a idade média, moderna, contemporânea e desemboca na revolução argelina.


O Homem Novo está pedindo licença para existir. Tem amplitude revolucionária, não aceita meias soluções, não aceita as dores que são colocadas sobre suas costas, mas assume as dores dos outros

O Homem Novo luta por superar a morte, através de sua ação revolucionária, na dimensão física da dor, na dmensão emocional, na dimensão intelectual,  na dimensão social, na dimensão dos valores, e na dimensão espiritual.

Além disso, o Homem Novo sofre muitas dores que não são dele próprio, pelos outros.

Ele está sendo descoberto a cada dia, nos questionando de nossas subserviências, de nossos orgulhos e vaidades. Nos convida a procurar o menor, o mais fraco e elevá-lo ao centro das questões.

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