Pular para o conteúdo principal

O "Medo à liberdade" de Erich Fromm mantém atualidade



Nos anos de 1966, eu com meus 17 anos, era um jovem ansioso por conhecimento.

Entre outros, dois livros marcaram esta fase em minha juventude.

Um deles chama-se "Medo à liberdade", o outro, "A arte de amar".

"Influenciado por Freud e Marx, Erich Pinchas Fromm é considerado um dos principais expoentes do movimento psicanalista do século 20. Dono de uma carreira controversa e polêmica, Fromm estudou principalmente a influência da sociedade e da cultura no indivíduo. Entre os seus muitos livros, destacam-se "O Medo e a Liberdade" e "A Arte de Amar". Para o psicanalista, a personalidade de uma pessoa era resultado de fatores culturais e biológicos, o que contrastava com a teoria de Freud, que privilegiava, principalmente, os aspectos inconscientes do psiquismo."(obti do Uol)


Em suma Fromm era a psicologia à partir do ponto de vista social, político, e todo o seu estudo se escorava no aspecto social e não individual.

Não há uma liberdade em abstrato, mas uma forma de liberdade determinada pelo feudalismo e outra forma de liberdade ditada pelo capitalismo, que se impõe ao indivíduo que se adapta a elas, acreditando tratar-se de formas naturais de convívio social.

A liberdade no socialismo é questão em discussão e criação até os dias de hoje, e vai continuar...

Uma pitada para vocês, do livro : "O efeito psicológico da vastidão de superioridade de força da grande empresa também produziu efeitos no operário. Nas organizações menores dos tempos antigos, o operário conhecia pessoalmente o seu patrão e estava familiarizado com toda a organização. ...O homem em uma usina que emprega milhares de  operários acha-se em situação diferente. O patrão tornou-se uma figura abstrata - ele nunca o vê;  a "gerência" é um poder anônimo com que ele lida indiretamente e para quem é, como indivíduo, inexpressivo" Assim, os sindicatos tiveram o papel de proporcionar uma sensação de força e significado ante os gigantes.

Erich Fromm relaciona a liberdade à espontaneidade, e ao desenvolvimento do senso crítico, que foi destruído pelo sistema capitalista.

Disto, decorrem dois tipos de liberdade: uma, que é negativa, a de se fechar em si, em sua casa, reproduzindo o processo de isolamento produzido pelo sistema. Lembrando que somos livres para a escolha que quisermos segundo Fromm. E outra, positiva, a liberdade para sair, e exercer o seu senso crítico, experimentando através da espontaneidade.

Vocês imaginam o ano de 1966, início da ditadura, eu mergulhado neste livro?

Crescia em mim um sentimento libertário que nunca mais se apagou.

Vejo ainda hoje, com tantas mudanças conjunturais, este livro em toda sua atualidade.

Viver um período democrático, apoiando um governo, não nos retira o senso crítico nem a busca pela liberdade, rompendo com nossos medos, impostos pelo sistema produtivo, e experimentando novas formas de fazer surgir uma nova humanidade mais unida e solidária, mais voltada para a eliminação da escravidão no homem, que se manifesta a cada momento e nos enreda subrepticiamente.

É preciso alçar o vôo da liberdade. Esta condição não está dada. Está por se conquistar. Mas primeiro é preciso a consciência da existência de muitas submissões a que nos entregamos, é preciso que desenvolvamos o senso crítico, e a espontaneidade para descobrir formas novas de viver solidariamente.

Sugiro esta leitura em dezembro, mês de reflexões sobre a vida, em alguma varanda, ou debaixo da copa da árvore de alguma praça, não como obrigação, mas como deleite, para formação.

Refletir para libertar

Comentários

Anônimo disse…
Faz pouco tempo que comecei a ler Fromm, tive a oportunidade de ler Zen-Budismo e Psicanálise, A Arte de Amar e estou lendo Ter ou Ser?, todas foram escritas pelo menos há 4 décadas atrás e me impressionam a sua originalidade (e genialidade). E esse sentimento libertário que você mencionou também está acesso em mim. Acredito que todos o tenhamos, e ler Fromm é a faísca para acendê-lo.
Não posso opinar sobre o livro em questão, mas acredito que entendo tanto o conceito de liberdade quanto o de sociedade descritos. Não conheço pessoas que vivam esse tipo de liberdade (não conheço muito do mundo), a sociedade atual parece não permitir e as pessoas parecem não se dar conta ou não se importam. O conceito atual que se tem de liberdade (como o de se divertir, o de "viver" ou curtir a vida), parece para mim, também imposto de alguma forma pela sociedade, o considero banal e tenho a certeza de ser "enlatado". O indivíduo da nossa sociedade é egoísta e mesmo um sentimento de ajudar o próximo visa geralmente a si mesmo. Tanto uma mudança no próprio indivíduo quanto na sociedade são necessários, e considero Fromm parte da resposta.

Postagens mais visitadas deste blog

UM CORPO ESTENDIDO NO CHÃO

 Acabo de vir do Largo de Pinheiro. Ali, na Igreja de Nossa Senhora de M Montserrat, atravessa  a Cardeal Arcoverde que vai até a Rebouças,  na altura do Shopping Eldorado.   Bem, logo na esquina da igreja com a Cardeal,  hoje, 15/03/2024, um caminhão atropelou e matou um entregador de pão, de bike, que trabalhava numa padaria da região.  Ó corpo ficou estendido no chão,  coberto com uma manta de alumínio.   Um frentista do posto com quem conversei alegou que estes entregadores são muito abusados e que atravessam na frente dos carros,  arriscando-se diariamente. Perguntei-lhe, porque correm tanto? Logo alguém respondeu que eles tem um horário apertado para cumprir. Imagino como deve estar a cabeça do caminhoneiro, independente dele estar certo ou errado. Ele certamente deve estar sentindo -se angustiado.  E a vítima fatal, um jovem de uns 25 anos, trabalhador, dedicado,  talvez casado e com filhos. Como qualquer entregador, não tem direito algum.  Esta é minha cidade...esse o meu povo

O POVO DE RUA DE UBATUBA

 Nos feriados, a cidade de Ubatuba dobra o seu número de habitantes. Quando isso acontece, logo retiram os moradores em situação de rua, de seus locais, porque consideram que estes prejudicam a "imagem" da cidade. A questão é que os moradores de rua somente são lembrados quando são considerados prejudiciais à cidade. Não existe em Ubatuba uma política de valorização do povo de rua, capaz de diagnosticar o que impede eles de encontrar saídas dignas para suas vidas. Não existe sequer um local de acolhimento que lhes garanta um banho, uma refeição e uma cama. Saio toda semana para levar comida e conversar com eles.  Alguns querem voltar a trabalhar, mas encontram dificuldade em conseguir, tão logo sabem que eles vivem na rua e não possuem moradia fixa. Outros tem claro problema físico que lhes impede mobilidade. Outros ainda, convivem com drogas legais e ilegais.  O rol de causas que levaram a pessoa viver na rua é imenso, e para cada caso deve haver um encaminhamento de solução

Homenagem a frei Giorgio Callegari, o "Pippo".

Hoje quero fazer memória a um grande herói da Históra do Brasil, o frei Giorgio Callegari. Gosto muito do monumento ao soldado desconhecido, porque muitos heróis brasileiros estão no anonimato, com suas tarefas realizadas na conquista da democracia que experimentamos. Mas é preciso exaltar estas personalidades cheias de vida e disposição em transformar o nosso país numa verdadeira nação livre. Posso dizer, pela convivência que tive, que hoje certamente ele estaria incomodado com as condições em que se encontra grande parte da população brasileira,  pressionando dirigentes e organizando movimentos para alcançar conquistas ainda maiores, para melhorar suas condições de vida. Não me lembro bem o ano em que nos conhecemos, deve ter sido entre 1968 e 1970, talvez um pouco antes. Eu era estudante secundarista, e já participava do movimento estudantil em Pinheiros (Casa do estudante pinheirense - hoje extinta), e diretamente no movimento de massa, sem estar organizado em alguma escola,