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A ética e a vocação na política

Depois de todo um ano de campanha eleitoral em que nos esforçamos por eleger a nossa querida Presidenta Dilma Rousseff, e governadores, senadores e deputados, onde vários temas vieram à tona, uns mais de acordo com a temática de momento, outros enxertados, surge uma uma nova realidade, que é a inversão dos papéis.

Mal terminadas as eleições, vieram informações sobre o reajuste do salário do futuro governador de São Paulo, pela Assembléia Legislativa; depois notícias sobre o aumento dos ônibus, depois sobre o aumentos de todos os parlamentares, presidente, senadores, juízes, notícias sobre assessora que se beneficiou do cargo, mas a deputada não se afasta, futuros ministros sendo escolhidos sem experiência de gestão ou com algum passado já manchado, enfim agora parece que tudo pode. E a oposição se aproveitando disto

Agora é como se estivéssemos em uma janela, observando de longe a paisagem.

Se surge uma nuvem um pouco mais carregada e fecha uma parte do céu, pouco se me dá, pois só posso olhar.

Apreciava melhor o céu de antes, mas não tenho como impedir a tempestade.

Aí, fico pensando, eu que me esforço diariamente pela sobreviência, que dependo de inventiva e dedicação para trazer o sustento de meu lar, que tornei a campanha eleitoral gratúita com meu próprio empenho, ainda que ela seja muito cara, e com contribuições imorais de empreiteiras e bancos,  preciso repensar o papel do parlamentar, e da política, já que vivemos um tempo de, digamos assim, calmarias.

Sim porque são tempos novos, com novas realidades, que abrem a possibilidade de experiências inéditas de avanços, consolidação de posições, alianças, tendo por referência um conjunto de valores, para alguns abstratos, como verdade, justiça, paz, e para outros, históricos e dialéticos, que são os mesmos, porém submetidos ao crivo das conjunturas e dos processos.

Logo, um tema vem à baila: Qual é o papel da política, e como deve ser o papel do político?

É como se Max Weber, estivesse novamente lecionando nas Universidades de Freiburg ou de Heidelberg,  demarcando os limites da ciência e da política, como vocações distintas, para preservar a universidade da influência nazista de sua época, além de, é obvio, reafirmar aspectos importantes de sua teoria social, destacando a importância do agente investigador, com alguém de natureza distinta do político.

Se antes das eleições os políticos são nossos "escravos", por dependerem de nosso juízo, de nosso voto, é de se supor que passadas as eleições, sejam eles os nossos "escravos", realizando ações voltadas a atender os interesses e os direitos daqueles que os elegeram.

Porque a sociedade continua como era, embora o processo eleitoral tenha terminado.

A sociedade continua com suas concepções de antes, só não tem mais como defendê-las pelo voto à curto prazo.

Outros mecanismos, infelizmente, ainda são pouco exercidos em nossa democracia incipiente.

Qual deve ser a ética da política?

Manter como puder a coerência de suas concepções, com o imbrólio de processos que atravessam sua frente, nem sempre desejados e deflagrados de forma imoral, embora lícitas, e dentro da lei?.

Contrapor-se abertamente, marcando um divisor de águas, onde os maus ficam do lado de lá, com sua corrupção e seu jogo de interesses; e nós do lado de cá, castos e isolados, enquanto o rolo compressor dos grandes grupos nacionais e internacionais navegam com tranquilidade?

Uma reflexão um pouco mais pausada nos mostra que nem sempre ditamos os processos, que somos também na política e como políticos, envolvidos como todos os cidadãos, na impotência do Leviatã, no pensar de Hobbes.

Resta uma trilha tênue e perigosa. Ela exige argúcia e distinção de conseguir atravessar a passagem em segurança, com os apetrechos que permitirão encontrar a mina e extrair os minérios.

Ao largo, há uma floresta fechada com olhos anônimos observando.

Querem ver a coerência durante o caminho, querem ver se avanço em segurança, se há direção, ainda que em meio ao perigo.

Este político não se reveste da soberba da vitória, mas da simplicidade de sua dependência do povo.

Não se vê dono da verdade, ainda que muitas vezes a tenha, mas se debruça constantemente no coração daqueles que o elegeram, para saber o que fazer, como se de nada soubesse.

Este político está em formação, como dizia Heráclito, jamais será um, mas durante.

Ele busca apurar-se em erros e acertos, em crescente conhecimento e experiência.

O político não é Deus, embora a sociedade o deseje como um.

Ele pode errar. Tem o direito de errar, até para quebrar nossos próprios paradigmas, nossa idolatria

Não admitir isto é não ser dialético.

Aceitar esta premissa, admite que possamos errar e que devemos nos esforçar por acertar. Se não admitir isto, serei um idealista.

É como dizia Pessoa: "Nunca conheci ninguém que tivesse levado porrada. Todos são perfeitos"

Por outro lado, o político não pode abandonar suas concepções, em função de um processo que se lhe agiganta.

Senão, não durará muito e será um igual. Pior, os outros o verão igual.

Aí acontecerá o pior dos mundos

Como cantava Elis Regina.: "O pior é que ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais".

Há que se ter rebeldia, se ter irreverência. Precisam acontecer conquistas no meio desta lama.

Há que se dar respostas plausíveis quando se tiver de dançar o samba de uma nota só, senão tudo se porá a perder.

É o que tinha para refletir.

O povo é o juiz, e está vendo!

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