Passando os olhos nas características de dois tipos de desenvolvimento tão díspares, e de certa forma complementares, não posso deixar de pensar, à distância, no que eles se diferenciam, e até quando poderão caminhar juntos sem conflitos pois sabemos que setores produtivos brasileiros por vezes reclamam da forte presença de produtos chineses, em condições concorrenciais mais vantajosas.
Uma primeira observação se nota no tipo do empresariado brasileiro e chinês.
O empresariado brasileiro expande-se pelo mundo, mostrando musculatura multinacional, ora açambarcando empresas concorrentes européias e americanas, ora associando-se com competidores mais fortes. De qualquer forma, o que se observa é o crescimento do capital transnacional, que tende cada vez mais a se distanciar do chamado "projeto nacional". A presença do Estado brasileiro na economia, é estratégico e mal ocupa as chamadas áreas obrigatórias de sua presença, ainda que, por inércia veio ocupando aqui e ali, algum espaço. O mercado brasileiro tem sido cativo deste empresariado, que estabelece o preço dos produtos a bel prazer, aos trabalhadores.
Já o empresariado chinês é subsidiado pelo Estado, com quem divide os lucros e dividendos. Há um tipo mesclado de empresas. As multis ao se instalarem abrem sociedade com o estado que acaba sendo co-responsável pelo sucesso, porque o fracasso é impossível para o estado, e por consequência para o empresariado. Mesmo as multi que lá se instalam adequam-se a este modelo. É um modelo de socialismo de tipo nacional. O internacionalismo socialista e o socialismo de cunho nacional tem entre si algumas ranhuras, coexistindo politicamente e divergindo economicamente. Lá há uma certa preservação do mercado, da devora do lucro.
Qual é mais estável?
Aparentente o chinês, embora esta presença conjunta de estado e empresariado na China seja ainda uma incógnita diante de uma crise de grandes proporções. Isto significará mais uma força ou uma fraqueza?
A diferença tecnológica entre os dois, talvez seja o fator de maior preocupação. As conquistas teconológicas chinesas são cotidianas, e as brasileiras são pontuais. Uma intervenção do estado no desenvolvimento tecnológico é fator estratégico para o nosso desenvolvimento e ocupação de papel político no mundo.
A defesa militar é onde se localiza a maior distância. O Brasil não tem como impedir a ocupação do mar territorial do pré-sal, se isto ocorrer. Não ocorreu ainda por razões puramente políticas e de convergências econômicas com as potências ocidentais. Mas se por aqui tivéssemos um política econômica mais acelerada na linha chavista, é provável que o pré-sal fosse um ponto de conflito. Este fator nos faz permanecer numa dependência perigosa.
Em termos de produtividade, o PIB chinês é em torno de 3 vezes o nosso, o que se torna uma distância imensa. Considerando-se, entretanto, as diferenças populacionais, onde temos pelo menos 8 vezes menos população que a China, e considerando-se os recursos minerais existentes em todo nosso subsolo, esta visão fica diferente, e o horizonte menos nublado.
Devemos também levar em conta que estamos fazendo a lição de casa de elevar as condições de vida da população, o que para nós é, proporcionalmente, um esforço muito menor do que o chinês
O Brasil precisa iniciar, portanto, uma política de maior presença do Estado na economia, pois vemos que o nosso empresariado tende cada vez mais a deixar de ser nacional, podendo, devido às circunstâncias adotar políticas que divirjam do chamado projeto nacional.
Veja os Bancos "brasileiros" interessados em juros altos, mais que em desenvolvimento, e na transferência de empresas para o exterior ou saindo de regiões, depois de sugarem até deixar a carcaça e o esqueleto.
A educação, nesta perspectiva, ocupa papel fundamental, pois o Estado, enfraquecido de apoio do empresariado, necessita de base popular não só política, mas principalmente tecnológica, que só advirá se o investimento em educação for substantivo, e em todos os níveis de formação.
Deixo apenas esta reflexão de fim de 2010 para meditarmos sobre os desafios que temos pela frente.
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