Na minha memória profissional, dos lugares por onde passei, uma experiência me vem à mente.
Era o ano de 1985, aproximadamente, e tinha aceito o desafio de assumir o cargo de RH de uma grande fábrica de calçados em Franca.
Era bem jovem, e cheio de ambições.
Foi uma experiência rápida e produtiva, com duração de apenas um ano, devido à minha precipitação por querer fazer muita coisa de uma vez só.
Isto não vem ao caso agora.
Quero contar a história de um operário sapateiro, que conheci, devido a um problema que ele passava, no período em que era gerente de RH nesta fábrica.
Um belo dia, o encarregado do Almoxarifado de modelos veio me procurar.
O almoxarifado de modelos é um local onde guardam os modelos de pés em madeira, com toda numeração, de todas as nações que importam os calçados da fábrica. Creio que hoje deve ser diferente, mas na época era assim.
Não sei se vocês sabem, mas se você calça 40 e comprar um par e calçado número 40 exportado para a Inglaterra, o sapato não entrará em seus pés, pela simples razão de que o inglês tem peito de pé chato, e o brasileiro tem peito de pé alto.
Assim, embora, o número caiba no pé, não se conseguirá calçar o sapato, pois o espaço para por o pé é bem pequeno, ainda que seja para pés de numeração grande.
Por isso existe o almoxarifado de modelos, para guardar a fôrma dos pés de vários povos para onde os calçados são exportados.
Bem ,ali trabalhava um funcionário do qual não me lembro mais o nome, nem o diria se soubesse, recém casado. Estava prostrado na sua bancada, sem fazer nada. O encarregado dizia-me:
- João, o fulano acabou de casar-se há um mês, e acaba de descobrir que sua jovem esposa o está traindo com outro homem. E parece que isso vem de antes do casamento. Ele é um bom profissional, mas está completamente caído, sem fazer nada. Já falei com ele tudo que foi possível, mas não adiantou. Por isso estou vindo aqui, para ver se você não tem uma solução para este caso.
Assenti prontamente, e pedi que o chamassem.
Ao chegar o pobre rapaz parecia um trapo, todo caído, sem desejar manter qualquer tipo de conversa.
Fui obrigado a dizer-lhe que eu já sabia de seu problema, e que ele não precisava preocupar-se de ter de explicar o fatídico acontecimento, e que pela sua ficha sabíamos que ele era um ótimo profissional.
De outra forma, estávamos querendo dizer-lhe que compreendíamos seu problema, e que sabíamos que ele encontraria uma saída para isso.
A conversa terminou aí mesmo, porque não éramos nós os que iríam resolver seu problema, mas ele próprio.
Passou o tempo, e tudo continuava igual. Nada de querer saber de trabalhar, e o serviço atrasando.
Mandei chamar o rapaz de novo.
Ele veio, do mesmo jeito de antes. Fui mais incisivo:
- Rapaz, nós já conversamos com você há quinze dias atrás, e esperávamos que você tomasse alguma atitude, e buscasse encontrar uma solução para a sua vida.
- Você que continuar deste jeito?
- Não.- respondeu-me secamente.
- Você já pensou a saída que você tem, para este problema?
Aguardou em silêncio alguns instantes e respondeu-me:
- Tentei conversar com ela, mas não adiantou. Estamos sem convesar em casa este tempo todo.
Perguntei-lhe novamente ..
- O que você pretende fazer afinal?
Ficou novamente em silêncio.
Insisti mais uma vez.
Por fim, ele disse que o negócio era terminar com o casamento.
O encarregado que estivera junto durante a conversa completou, que mulheres existiam muitas, e já que eles não tinham filhos, terminando o casamento agora, ele poderia reconstruir sua vida com outra mulher, que o amasse verdadeiramente.
Finalizamos conversa quase que com um compromisso de que uma atitude seria tomada.
Passaram-se alguns dias, e chamei o chefe, que disse-me que eles haviam se separado.
Tinham dividido os móveis, os equipamentos eletrônicos, fogão, geladeira, devolveram a casa alugada, e voltaram ambos para a casa de seus respectivos pais.
Passaram-se quinze dias, e nada do rapaz voltar a trabalhar direito; vinte dias e nada.
Quando deu um mês, encontrando o encarregado do almoxarifado, perguntei-lhe do rapaz traído, como ele estava no trabalho.
Respondeu-me que estava ótimo, e todo engajado no serviço. Completei:
- Esqueceu a esposa, ou encontrou outra?
- Nem uma coisa, nem outra -respondeu-me - Voltou com a esposa.
Compreendi aquele dia, que não existem regras racionais para o coração.
Algo que pode ser uma solução razoável, racionalmente falando, não tem a mínima significância, em termos sentimentais e amorosos.
O jovem queria conquistar aquela moça que o traía, e não outras.
Queria retirá-la daquela relação de traição e resgatá-la para si.
Nunca mais sugeri nada a ninguém.
Hoje deixo estar, deixo correr, deixo o coração falar.
Era o ano de 1985, aproximadamente, e tinha aceito o desafio de assumir o cargo de RH de uma grande fábrica de calçados em Franca.
Era bem jovem, e cheio de ambições.
Foi uma experiência rápida e produtiva, com duração de apenas um ano, devido à minha precipitação por querer fazer muita coisa de uma vez só.
Isto não vem ao caso agora.
Quero contar a história de um operário sapateiro, que conheci, devido a um problema que ele passava, no período em que era gerente de RH nesta fábrica.
Um belo dia, o encarregado do Almoxarifado de modelos veio me procurar.
O almoxarifado de modelos é um local onde guardam os modelos de pés em madeira, com toda numeração, de todas as nações que importam os calçados da fábrica. Creio que hoje deve ser diferente, mas na época era assim.
Não sei se vocês sabem, mas se você calça 40 e comprar um par e calçado número 40 exportado para a Inglaterra, o sapato não entrará em seus pés, pela simples razão de que o inglês tem peito de pé chato, e o brasileiro tem peito de pé alto.
Assim, embora, o número caiba no pé, não se conseguirá calçar o sapato, pois o espaço para por o pé é bem pequeno, ainda que seja para pés de numeração grande.
Por isso existe o almoxarifado de modelos, para guardar a fôrma dos pés de vários povos para onde os calçados são exportados.
Bem ,ali trabalhava um funcionário do qual não me lembro mais o nome, nem o diria se soubesse, recém casado. Estava prostrado na sua bancada, sem fazer nada. O encarregado dizia-me:
- João, o fulano acabou de casar-se há um mês, e acaba de descobrir que sua jovem esposa o está traindo com outro homem. E parece que isso vem de antes do casamento. Ele é um bom profissional, mas está completamente caído, sem fazer nada. Já falei com ele tudo que foi possível, mas não adiantou. Por isso estou vindo aqui, para ver se você não tem uma solução para este caso.
Assenti prontamente, e pedi que o chamassem.
Ao chegar o pobre rapaz parecia um trapo, todo caído, sem desejar manter qualquer tipo de conversa.
Fui obrigado a dizer-lhe que eu já sabia de seu problema, e que ele não precisava preocupar-se de ter de explicar o fatídico acontecimento, e que pela sua ficha sabíamos que ele era um ótimo profissional.
De outra forma, estávamos querendo dizer-lhe que compreendíamos seu problema, e que sabíamos que ele encontraria uma saída para isso.
A conversa terminou aí mesmo, porque não éramos nós os que iríam resolver seu problema, mas ele próprio.
Passou o tempo, e tudo continuava igual. Nada de querer saber de trabalhar, e o serviço atrasando.
Mandei chamar o rapaz de novo.
Ele veio, do mesmo jeito de antes. Fui mais incisivo:
- Rapaz, nós já conversamos com você há quinze dias atrás, e esperávamos que você tomasse alguma atitude, e buscasse encontrar uma solução para a sua vida.
- Você que continuar deste jeito?
- Não.- respondeu-me secamente.
- Você já pensou a saída que você tem, para este problema?
Aguardou em silêncio alguns instantes e respondeu-me:
- Tentei conversar com ela, mas não adiantou. Estamos sem convesar em casa este tempo todo.
Perguntei-lhe novamente ..
- O que você pretende fazer afinal?
Ficou novamente em silêncio.
Insisti mais uma vez.
Por fim, ele disse que o negócio era terminar com o casamento.
O encarregado que estivera junto durante a conversa completou, que mulheres existiam muitas, e já que eles não tinham filhos, terminando o casamento agora, ele poderia reconstruir sua vida com outra mulher, que o amasse verdadeiramente.
Finalizamos conversa quase que com um compromisso de que uma atitude seria tomada.
Passaram-se alguns dias, e chamei o chefe, que disse-me que eles haviam se separado.
Tinham dividido os móveis, os equipamentos eletrônicos, fogão, geladeira, devolveram a casa alugada, e voltaram ambos para a casa de seus respectivos pais.
Passaram-se quinze dias, e nada do rapaz voltar a trabalhar direito; vinte dias e nada.
Quando deu um mês, encontrando o encarregado do almoxarifado, perguntei-lhe do rapaz traído, como ele estava no trabalho.
Respondeu-me que estava ótimo, e todo engajado no serviço. Completei:
- Esqueceu a esposa, ou encontrou outra?
- Nem uma coisa, nem outra -respondeu-me - Voltou com a esposa.
Compreendi aquele dia, que não existem regras racionais para o coração.
Algo que pode ser uma solução razoável, racionalmente falando, não tem a mínima significância, em termos sentimentais e amorosos.
O jovem queria conquistar aquela moça que o traía, e não outras.
Queria retirá-la daquela relação de traição e resgatá-la para si.
Nunca mais sugeri nada a ninguém.
Hoje deixo estar, deixo correr, deixo o coração falar.
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