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"A casada Infiel", de Garcia Lorca. Em memória à Guerra Civil Espanhola




Sus muslos se me escapaban
                  como peces sorprendidos,  
                  la mitad llenos de lumbre,
                  la mitad llenos de frío.







                      a Lydia Cabrera y a su negrita





                        
Y que yo me la llevé al río

creyendo que era mozuela,

pero tenía marido.

Fue la noche de Santiago

y casi por compromiso.

Se apagaron los faroles

y se encendieron los grillos.

En las últimas esquinas

toqué sus pechos dormidos,

y se me abrieron de pronto

como ramos de jacintos.

El almidón de su enagua

me sonaba en el oído,

como una pieza de seda

rasgada por diez cuchillos.

Sin luz de plata en sus copas

los árboles han crecido,

y un horizonte de perros

ladra muy lejos del río.


Pasadas las zarzamoras,

los juncos y los espinos,

bajo su mata de pelo

hice un hoyo sobre el limo.

Yo me quité la corbata.

Ella se quitó el vestido.

Yo el cinturón con revólver.

Ella sus cuatro corpiños.

Ni nardos ni caracolas

tienen el cutis tan fino,

ni los cristales con luna

relumbran con ese brillo.

Sus muslos se me escapaban

como peces sorprendidos,

la mitad llenos de lumbre,

la mitad llenos de frío.

Aquella noche corrí

el mejor de los caminos,

montado en potra de nácar

sin bridas y sin estribos.

No quiero decir, por hombre,

las cosas que ella me dijo.

La luz del entendimiento

me hace ser muy comedido.

Sucia de besos y arena

yo me la llevé del río.

Con el aire se batían

las espadas de los lirios.


Me porté como quien soy.

Como un gitano legítimo.

Le regalé un costurero

grande de raso pajizo,

y no quise enamorarme

porque teniendo marido

me dijo que era mozuela

cuando la llevaba al río.





Federico García Lorca, 1928






E eu que fui levá-la ao rio

Certo de que era donzela,

Mas bem que tinha marido.

Foi a noite de São Tiago

E quase por compromisso.

As lâmpadas se apagaram

E se acenderam os grilos.

Já nas últimas esquinas

Toquei seus peitos dormidos,

Que de pronto se me abriram

Como ramos de jacinto.

A goma de sua anágua

Vinha ranger-me no ouvido

Como seda que dez facas

Rasgassem em pedacinhos.

Sem luz de prata nas copas

As árvores têm crescido

E um horizonte de cães

Ladra bem longe do rio



Após franqueadas as brenhas,

Franqueados juncos e espinhos,

Por baixo de seus cabelos

Fiz um ninho sobre o limo.

Eu tirei minha gravata.

Ela tirou seu vestido.

Eu, cinturão e revolver.

Ela, seus quatro corpinhos.



Nem nardos nem caracóis

Têm cútis com tanto viço,

Nem os cristais sob a lua

Alumbram com igual brilho.

Sua coxas me escapavam

Como peixes surpreendidos,

Metade cheias de lume,

Metade cheias de frio.

Galopei naquela noite

Pelo melhor dos caminhos,

Montado em potra nácar

Sem rédeas e sem estribos.

As coisas que ela me disse,

Por ser homem não repito

Faz a luz do entendimento

Que eu seja assim comedido.

Suja de beijos e areia,

Eu levei-a então do rio.

Contra o vento se batiam

As baionetas dos lírios



Portei-me como quem sou.

Como gitano legítimo.

Dei-lhe cesta de costura,

Grande, de cetim palhiço,

E não quis enamorar-me,

Pois ela, tendo marido,

Me disse que era donzela

Quando eu a levava ao rio.





Federico Garcia Lorca nasceu na região de Granada, na Espanha, em 05 de junho de 1898, e faleceu nos arredores de Granada no dia 19 de agosto de 1936, assassinado pelos "Nacionalistas". Nessa ocasião o general Franco dava início à guerra civil espanhola. Apesar de nunca ter sido comunista - apenas um socialista convicto que havia tomado posição a favor da República - Lorca, então com 38 anos, foi preso por um deputado católico direitista que justificou sua prisão sob a alegação de que ele era "mais perigoso com a caneta do que outros com o revólver." Avesso à violência, o poeta, como homossexual que era, sabia muito bem o quanto era doloroso sentir-se ameaçado e perseguido. Nessa época, suas peças teatrais "A casa de Bernarda Alba", "Yerma", "Bodas de sangue", "Dona Rosita, a solteira" e outras, eram encenadas com sucesso. Sua execução, com um tiro na nuca, teve repercussão mundial.





A poesia acima foi extraída de sua "Antologia Poética", Editora Leitura S. A. - Rio de Janeiro, 1966, pág. 58, tradução e seleção de Afonso Felix de Sousa.









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