Pular para o conteúdo principal

A terra preta de índio, uma das mais férteis do mundo.



Pesquisadores de vários países correm contra o tempo para descobrir como se formou um dos solos mais férteis do mundo: a Terra Preta Arqueológica
Até onde se sabe, os solos de terra preta arqueológica existem principalmente na Amazônia. Extremamente
fértil, a terra preta está derrubando o mito de que os
solos da região são pobres e impróprios para a
agricultura. Utilizada pelo caboclo amazônida que,
por experiência, aprendeu que se plantando em
terra preta tudo dá, pesquisadores do Brasil, da
Europa, Estados Unidos e América Latina se debruçam
 em sítios arqueológicos para tentar descobrir como
esse tipo de solo se formou. A descoberta significa
uma revolução: é a chave do desenvolvimento da
agricultura sustentável nos trópicos.
Há mais de 100 anos, cientistas registraram a
ocorrência da Terra Preta Arqueológica (TPA) e
constataram a elevada fertilidade desses solos.
No entanto, pouco se sabe sobre as terras pretas,
 e as informações estão restritas a um grupo de
cerca de 20 pesquisadores que se dedicam ao
assunto. As populações ribeirinhas provaram na
prática, o que os estudiosos descobriram através
de pesquisas: agricultores utilizam a terra preta há
muito tempo para o cultivo de subsistência,
sem qualquer prática de manejo e o solo
continua fértil.
COMPOSIÇÃO....................................................................

A Terra Preta Arqueológica - também chamada de Terra

 Preta de Índio ou simplesmente Terra Preta -
tem essa denominação porque é encontrada
em sítios arqueológicos, onde viveram grupos
pré-históricos. Por isso, há grande quantidade
de material deixado por esses grupos indígenas
 como fragmentos cerâmicos, carvão e artefatos
 líticos (de pedra). Normalmente, o material arqueológico
 é bem diversificado, o que leva a crer que grupos
 culturais distintos habitaram um mesmo local.
As áreas com Terra Preta Arqueológica são encontradas
 sobre os mais diversos tipos de solos e
normalmente se localizam em terra firme, próximas
 às margens de rios, em locais bem drenados.
A TPA pode ser identificada por sua cor escura,
resultado da concentração de substâncias
orgânicas depositadas no solo que apresentam altos
teores de cálcio, carbono, magnésio, manganês,
fósforo e zinco, elementos que tornam a terra fértil.

As áreas de terra preta são consideradas pequenas,

medem de 2 a 3 hectares, mas há exceções, como
no caso da Estação Científica Ferreira Penna, no
coração da Floresta Nacional de Caxiuanã (PA), onde
se pode encontrar terras pretas numa extensão com
mais de 100 ha. A camada de TPA, possui em média
40 a 60 cm, mas pode atingir até 2 m de profundidade.
Apesar da grande quantidade de sítios arqueológicos
 já conhecidos, não se tem um mapeamento de
todas as ocorrências de TPA na Amazônia. A estimativa
é que ocorram centenas de sítios espalhados pela
região. Somente em Caxiuanã, foram descobertos
28 sítios arqueológicos com terra preta.
A Terra Preta Arqueológica tem coloração mais escura devido à grande concentração de material orgânico
HIPÓTESES..........................................................................
Pesquisadores estimam que um centímetro de terra
preta leve pelo menos 10 anos para se formar, no entanto,
não existem pesquisas que comprovem as datas de
formação da TPA. Em Caxiuanã, apenas um sítio
arqueológico foi datado e a estimativa é que tenha
de 300 a 700 anos de existência. Mas se ainda
pairam divergências sobre a terra preta, a maior, sem
dúvida é quanto a sua formação. Até meados do
século passado, estudiosos do assunto entendiam que
a TPA teria se originado de eventos geológicos,
cinzas vulcânicas, decomposição de rochas vulcânicas
ou a partir de sedimentos depositados nos fundos de
lagos extintos.
Dados mais recentes apontam que a TPA teria
origem antrópica, ou seja, seria resultado de
antigos assentamentos indígenas. As evidências da
passagem do ser humano por essas áreas são os
próprios elementos que faziam parte do cotidiano dos
povos pré-históricos da Amazônia. A matéria orgânica
que formou a TPA é composta principalmente por folhas
que serviam para a cobertura de casas, além de
sementes, cipós e restos de animais (ossos,
carapaças, conchas, fezes, urina, etc.).
Essa é a tese da geoarqueóloga Dirse Kern
do Museu Paraense Emílio Goeldi, que estuda a
TPA desde 1986. Ela defende que a matéria
orgânica foi depositada no solo de forma não
intencional, mas como prática cultural do povo
que habitou determinada área e colocava material
orgânico em locais específicos. Segundo a
pesquisadora, a alta fertilidade desses solos
se deve ao acúmulo de material orgânico depositado
na aldeia indígena na pré-história. Esse material era
de certa forma selecionado, proveniente tanto
de fontes orgânicas de origem vegetal como
animal, e a quantidade dependia do tempo de
ocupação da aldeia e do número de indivíduos.
O resultado desse "composto orgânico" são solos
férteis que apresentam matéria orgânica estável,
formando microecossistemas próprios, que se
auto-sustentam e não conseguem se decompor,
por isso, não exaurem facilmente.
A pedóloga (estudiosa de solos), Maria de Lourdes
Ruivo, também do Museu Goeldi, faz parte da
equipe que estuda terras pretas. Segundo ela, a
topografia e as características biológicas do solo
são fatores importantes para explicar a composição
da TPA. Com doutorado em solos, Ruivo explica que
as terras pretas ficam em sua grande maioria
nas partes elevadas o que poderia facilitar a
transformação da matéria orgânica em nutrientes
minerais que são incorporados ao solo. A pesquisadora
afirma que as terras pretas possuem altos
teores de substâncias húmicas, responsáveis pela
nutrição e agregação dos solos, o que explicaria, em
parte, a fertilidade da TPA. "Alguns microorganismos
podem sintetizar as substâncias húmicas de forma
diferente dos demais solos adjacentes", afirma Ruivo.
Daí a necessidade, segundo ela, de se estudar todos
os tipos de vida que fazem parte do solo e ainda a
fauna que habita o sítio e o entorno dessas áreas e
que, de alguma forma, possam ter contribuído para a
formação dos solos.
Uma outra hipótese, levantada recentemente e
discutida durante o congresso de arqueologia
realizado em setembro do ano passado no Rio
de Janeiro, refere-se à formação da TPA como
resultado da incorporação intencional de nutrientes
no solo (plaggen epipedon) através de práticas
de manejo como queimadas, que objetivavam
a produção agrícola. Essa tese não é bem
aceita pela comunidade científica, uma vez que a
abundância de terras e o hábito errante das
populações pré-históricas levam a crer que os indígenas
não se preocupavam em enriquecer o solo para
plantar,mas buscavam novos locais.

PERSPECTIVAS...................................................................
Com o crescente interesse dos pesquisadores em
estudar a terra preta arqueológica, está sendo
preparado um workshop para discutir o assunto.
O evento tem início em Manaus (AM), em julho
deste ano. Os participantes vão apresentar trabalhos
e trocar experiências a bordo de um barco que vai
descer o rio Amazonas e parar às proximidades de
três sítios arqueológicos. A viagem continua até
chegar em Santarém (PA) onde mais sítios serão
visitados.
Aprovado em novembro do ano passado pelo Programa
Norte de Pesquisa e Graduação (PNOPG), com
duração de dois anos, o projeto "Processos de
formação de solos com Terra Preta Arqueológica
na Amazônia" vai pesquisar a gênese dos solos
com Terra Preta Arqueológica na Amazônia. O estudo
também vai investigar quais os vegetais que hoje são
utilizados pelas populações ribeirinhas e se
contribuíram para a formação da TPA. Esses vegetais
podem ser os mesmos utilizados pelas
populações pré-históricas para cobertura de casas,
fabrico de esteiras, entre outras utilidades.
O projeto é coordenado por Dirse Kern e
envolve vários pesquisadores do Museu Emílio
Goeldi e de diversas instituições.
Há muito o que se discutir sobre Terra Preta
Arqueológica. A questão central ainda não
conseguiu ser respondida: Como se
formaram? Os pesquisadores sabem a importância
dessa descoberta, pois reproduzir a TPA pode
significar um grande salto para o desenvolvimento
da agricultura na região.
Para obter mais informações sobre Terra Preta
Arqueológica, basta visitar o website sobre o assunto.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Soneto de Dom Pedro Casaldáliga

Será uma paz armada, amigos, Será uma vida inteira este combate; Porque a cratera da ... carne só se cala Quando a morte fizer calar seus braseiros. Sem fogo no lar e com o sonho mudo, Sem filhos nos joelhos a quem beijar, Sentireis o gelo a cercar-vos E, muitas vezes, sereis beijados pela solidão. Não deveis ter um coração sem núpcias Deveis amar tudo, todos, todas Como discípulos D'Aquele que amou primeiro. Perdida para o Reino e conquistada, Será uma paz tão livre quanto armada, Será o Amor amado a corpo inteiro. Dom Pedro Casaldáliga

UM CORPO ESTENDIDO NO CHÃO

 Acabo de vir do Largo de Pinheiro. Ali, na Igreja de Nossa Senhora de M Montserrat, atravessa  a Cardeal Arcoverde que vai até a Rebouças,  na altura do Shopping Eldorado.   Bem, logo na esquina da igreja com a Cardeal,  hoje, 15/03/2024, um caminhão atropelou e matou um entregador de pão, de bike, que trabalhava numa padaria da região.  Ó corpo ficou estendido no chão,  coberto com uma manta de alumínio.   Um frentista do posto com quem conversei alegou que estes entregadores são muito abusados e que atravessam na frente dos carros,  arriscando-se diariamente. Perguntei-lhe, porque correm tanto? Logo alguém respondeu que eles tem um horário apertado para cumprir. Imagino como deve estar a cabeça do caminhoneiro, independente dele estar certo ou errado. Ele certamente deve estar sentindo -se angustiado.  E a vítima fatal, um jovem de uns 25 anos, trabalhador, dedicado,  talvez casado e com filhos. Como qualquer entregador, não tem direito algum.  Esta é minha cidade...esse o meu povo

Homenagem a frei Giorgio Callegari, o "Pippo".

Hoje quero fazer memória a um grande herói da Históra do Brasil, o frei Giorgio Callegari. Gosto muito do monumento ao soldado desconhecido, porque muitos heróis brasileiros estão no anonimato, com suas tarefas realizadas na conquista da democracia que experimentamos. Mas é preciso exaltar estas personalidades cheias de vida e disposição em transformar o nosso país numa verdadeira nação livre. Posso dizer, pela convivência que tive, que hoje certamente ele estaria incomodado com as condições em que se encontra grande parte da população brasileira,  pressionando dirigentes e organizando movimentos para alcançar conquistas ainda maiores, para melhorar suas condições de vida. Não me lembro bem o ano em que nos conhecemos, deve ter sido entre 1968 e 1970, talvez um pouco antes. Eu era estudante secundarista, e já participava do movimento estudantil em Pinheiros (Casa do estudante pinheirense - hoje extinta), e diretamente no movimento de massa, sem estar organizado em alguma escola,